AnderSonsBlog nem vai entrar nos méritos da partida em si. Mas o que nosso colaborador para assuntos esportivos, Luís Américo, destaca no texto a seguir é, sem dúvidas, uma espécie de ‘tapa na cara’ de todos os dirigentes, sem exceção, de todos os clubes sergipanos de futebol no que diz respeito as categorias de base de todos os nossos times, minhas gentes! Falcon x Olhoguadense (AL) é lição de moral e, como diz o próprio Luís Américo, lição de outras coisas fundamentais pra que o nosso futebol, a partir do necessário cuidado com seus atletas ‘#dimenores’, quem sabe um dia alcance a sua ‘maioridade’ enquanto esporte que emociona e empolga nossos torcedores e, por fim, garanta recursos financeiros para esses mesmos clubes locais. Bora lá entender isso tudo?
“Lição de Vida e Humildade
Luís Américo*
Na terça-feira (11), às 15h, em pleno Batistão, os poucos presentes, a maioria atletas de base, pais e dirigentes, puderam contemplar uma história bacana que faz o futebol ser essa paixão nacional.
A partida foi válida pela 1ª rodada da Copa do Brasil sub17, organizada pela CBF. A maioria dos presentes foi assistir e observar a equipe do Falcon, atual campeão sergipano nessa categoria e um clube com umas das melhores estruturas de base do nosso estado. Um time criado pra revelar atletas de base, como prega o lema do Carcará: “Falcon: Ninho de Talentos”.
Pois foi com toda a pompa de estrutura de time profissional que os meninos do Falcon subiram o túnel do Batistão e parecia ser favas contadas a classificação.
Do outro lado um time oriundo do sertão alagoano, precisamente da cidade de Olho D’Água das Flores, o Centro Esportivo Olhoguadense (CEO), entrou no gramado muito desacreditado pelos espectadores. Uniforme simples, sem nenhuma pompa, e ao invés de diversos coolers com água gelada, tinha em cima da mesinha de plástico, ao lado do banco de reservas, o bom e velho garrafão térmico. Meninos menores em estatura, mas gigantes dentro de campo. Posso estar enganado, mas creio que todos eles sejam ali daquela região alagoana.
O que os atletas, comissão técnica e diretoria do Falcon esqueceram foi que, independentemente de estrutura, não se pode subestimar um time que fora campeão alagoano.
Com a bola rolando, o Falcon começou se impondo e dominando as ações, mas sem muita eficiência. E aos poucos os meninos do sertão alagoano foram se adaptando ao campo e subindo a marcação. E foi assim que, com vários jogadores na área do Carcará, forçaram o goleiro a errar um passe e isso que foi fatal: 0 x 1 CEO.
O Falcon partiu pra cima buscando o empate, mas sem organização tática e inspiração, acabou deixando o quintal aberto pra os ‘moleques’ passearem. Em um contra-ataque rápido, característico dessa equipe alagoana, o Olhodaguense ampliou um o placar: 0 x 2 CEO.
Veio a segunda etapa e, com algumas alterações, a equipe sergipana foi em busca do empate, mas esbarrava na tarde infeliz dos seus atacantes. As jogadas até saíram, com bolas alçadas na área adversária, que era baixa. Porém os atacantes erravam bisonhamente a conclusão pro gol. E, assim como no primeiro tempo, o desespero do Carcará convidava os meninos do CEO para brincar de contra-ataque. E foi dessa forma que saiu o terceiro gol, em bela jogada do ponta esquerda, que deixou a zaga na saudade pra marcar.
O desespero bateu na porta do Falcon e já não existia mais tática ou plano de jogo: era jogar bola na área pra aproveitar alguma única oportunidade de criar chance de gol. Mas o bom meio campo alagoano, assim que recuperava a bola, acionava rapidamente seus velozes e habilidosos pontas que só não levavam vantagem quando recebiam trombadas dos grandões do Ninho de Talentos.
E em mais um contra-ataque, o CEO selou a vitória, mas ainda deu tempo do Falcon fazer o gol de honra de pênalti; Só que o placar final escancarou a dura realidade do nosso futebol de base: Falcon 1 x 4 CEO.
Fica a lição para a FSF, dirigentes de clubes e empresários locais: um time do sertão alagoano, com pouca estrutura e com dificuldades financeiras, chegou em nossa maior praça de esportes e eliminou aquele que é, talvez hoje, o time de base mais estruturado do estado.
Vale lembrar que no ano passado nem Itabaiana e nem Confiança tiveram equipes nas competições estaduais das categorias sub15 e sub17. Se duas das maiores equipes do nosso estado não acham viável montar equipes de base é porque estamos na contramão da tendência mundial.
Não à toa, Luiz Guilherme, Willian Gomes e vários outros que por aqui não desabrocharam, deixaram nosso estado muito cedo, sem nem jogar na base local e, com isso, proporcionar lucro para os clubes sergipanos, indo para os grandes polos, como São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e depois indo para a Europa e deixando uma fonte de renda grandiosa para os clubes destes centros citados, enquanto os daqui ficaram com o boné na mão, pedindo dinheiro pra contratar veteranos em fim de carreira, em detrimento a investir na base.
O último atleta que lembro ter dado lucro a um clube local foi Jemerson, revelado pelo Confiança, que foi vendido ao Atlético-MG, clube que o repassou para o Mônaco da França, gerando 5% do valor da venda para ao Dragão como clube formador.
Ainda tenho esperanças de que tenhamos um investimento alto na nossa base para que nossos clubes possam aproveitar os chamados ‘cria’ no profissional. E que daqui eles alcem em voos para o mundo, mesmo que com algumas escalas.
*é desportista na essência e, por ser pai de atleta, sabe exatamente do que está falando quando cobra que o futebol de base sergipano seja devida e efetivamente prestigiado”.