Quando alguém, vez em quando, elogia algum texto de AndersonsBlog, tipo “rapaz, você é bom escrevendo”, o blog responde, sem nenhuma afetação e com a máxima sinceridade: “não, na verdade sou ótimo é lendo!” Nisso, eis que a gente acaba travando conhecimento com muita gente que escreve muito bem mesmo. Mateus Melo, assessor parlamentar, acadêmico de Letras/Português e com uma veia jornalística latente, é um desses que possuem aquele textão – no sentido quali, não quanti, viu? – merecedor de leituras, reflexões e admirações, pela evidente qualidade textual, sempre. E um outro apaixonado por belos textos, o jornalista Jozailto Lima, ligeiro que só, não perde a oportunidade de lançar luz sobre textos de grande quilate, como o do caso aqui tratado. Assim, sem mais delongas, vamos ao texto de Mateus Melo publicado pelo site JL Política (leia aqui a publicação original) e que agora republicamos, republicanamente, aqui neste AndersonBlog. Saboreie cada letra. Vale a pena!
“Opinião – O que Rogério Carvalho e Júlio César têm em comum?
Mateus Melo, JL Política, 08/01/22
O que um general romano e um senador brasileiro possuem em comum? Bom, com a chegada das eleições de 2022 e tudo o que elas trazem, algumas semelhanças são aparentes demais para passarem despercebidas a qualquer olho atento. Rogério, assim como Júlio César, já atravessou o Rubicão e luta contra Roma, que deu-lhe poder e acolhida.
Rogério Carvalho, senador pelo Partido dos Trabalhadores em Sergipe, já lançou a sua pré-candidatura ao Governo do Estado. Contrariando o seu grupo, até então, da base governista, ainda preso num mar de dúvidas e sem um farol que lhe dê norte. Belivaldo Chagas, atual governador, tenta emplacar alguns nomes para se opor a essa “tentativa” de candidatura da mesma base. Roma mãe e a briga das suas filhas. Os olhos do governador brilham ao citar Edvaldo Nogueira e Fábio Mitidieri, ambos ávidos pela benção de Belivaldo.
E aqui, nesse entremeio todo, entra o primeiro imperador romano, Caio Júlio César. Bastante conhecido por sua capacidade política e grande coragem. Atuou como general em diversas batalhas e entregou várias vitórias à República Romana.
Percebeu que Roma poderia ser mais, percebeu que a República estava enfraquecida com tantas frentes em guerra. Revoltas de escravos, aquisição de novos territórios e proteção de alguns já possuídos.
E há, dentre tantas outras expressões populares, uma que coloca Rogério Carvalho no lugar de Júlio César. A frase já foi utilizada também por Machado de Assis no romance “Helena”, de 1876. Trata-se de “Atravessar o rubicão”, que ganhou conotação de uma decisão arriscada e sem perspectiva de voltar atrás sem que esteja livre do prejuízo.
Júlio César, após sair vitorioso das Guerras Gálicas e com um invejável poderio militar e político, decide voltar para Roma com o seu exército. Para isso, ele precisa fazer a travessia do rio Rubicão, pequeno curso de água no nordeste da Península Itálica, conhecido pelo fato de que durante a República o direito romano proibia qualquer general romano de atravessá-lo com as suas tropas ao retornar de qualquer campanha.
Após a travessia, Júlio César sabia que não dava para voltar atrás, ele até poderia recuar com as suas tropas pelo rio novamente, mas a lei romana já tinha sido infligida. Ele, por coragem e pela necessidade de Roma, decide continuar marchando até a capital, o que deu início a uma guerra civil. Júlio César sai vitorioso e, em 49 a.c., assume o comando de Roma como ditador absoluto.
O leitor atento já deve ter percebido onde quero chegar. Rogério, ao declarar sua pré-campanha ao governo sem a benção papal de Belivaldo, mostra que a sua ligação com Roma foi desfeita.
Por acreditar que Sergipe pode mais, ele já atravessou o Rubicão com as suas tropas, sem possibilidade de volta para base governista e sem um grupo forte, de bons nomes, para apoiá-lo, a sua chegada à Roma torna-se ainda mais difícil.
O ato do senador demonstra a mesma coragem e senso de propósito de Júlio César? Ou age por ego e sobrevivência política contra a sua Roma, contra a base governista?
Por toda a sua experiência e por pressão partidária, já que o PT se arregimenta fortemente para 2022, com a possibilidade de Lula, Rogério já percebeu que a chance de ser “rifado” seria alta. Então, como diz outra expressão popular, “quem não arrisca, não petisca”.
Sem a possibilidade de recuar e sem um norte certo para seguir até Roma, como fica Rogério? As boas línguas de Sergipe falam de uma possível aliança – muito desejada pelo senador – com o ex-prefeito de Itabaiana, Valmir de Francisquinho, PL.
Valmir tem despontado na grande maioria das pesquisas realizadas até então como um dos fortes candidatos ao governo. Essas mesmas línguas dizem ainda que, para Rogério despontar em sua pré-candidatura, precisaria de um nome leve e forte no interior como o de Valmir e o seu grupo, que ocuparia a sua chapa como pré-candidato ao Senado.
Júlio César, após realizar a travessia, cunhou uma expressão também célebre, “a sorte está lançada”, que também se aplica ao caso de Rogério. A depender de sua capacidade política e de convencimento, Roma pode estar mais próxima ou mais distante das suas mãos.
Dentro das várias possibilidades que essa eleição em especial guarda, uma que está descartada, até por nome de “traição” é o retorno do senador à sua base original.
Sim, sua pré-candidatura já atravessou o Rubicão e agora tenta, com dificuldade, chegar a Roma. Ou ele amplia o seu exército ou ficará pelo meio do caminho e do esquecimento nas páginas vivas da história”.