Não deixa de ter fundamento a argumentação, a partir de estudos sérios, de que a notícia ruim, a tragédia e a desgraça têm maior poder de atração sobre as atenções humanas por um fato inerente à condição de todos: a autopreservação. Sim, porque o que nos assusta também é o que nos move à prevenção, aos maiores cuidados, ao redobrar da atenção, tudo com um objetivo simples: nos mantermos vivos e bem, ora pois! Mas há uma outra questão que potencializa essa atenção: a empatia. Quando acontece um acidente com alguém conhecido, pessoalmente ou através da mídia, não há como não se sensibilizar. De certa forma, se comover com a dor do outro é também saber que ela poderia ser nossa, vivenciando-a humanamente. Até aqui, tudo exato e bem na medida para que se analise o impacto que o terrível acidente sofrido pelo empresário e político João Tarantella, nesta terça, 11, vem causando na sociedade sergipana. Como dito, um atropelamento sem socorro – que está sendo investigado – é tragédia que arrepia até a medula de qualquer pessoa, e a empatia acaba sendo imediata, visto que João, polêmico e instigador, na política, simpático e receptivo, em sua atividade profissional, o homem por trás da marca Tarantella, referência gastronômica há décadas na capital sergipana, é, evidentemente, persona pública na acepção do termo. Então não há nem o que se discutir: seu drama comove a todos e com toda razão! Agora, o que não passa batido para AndersonsBlog é o fato de que a foto dele agonizando no asfalto se tornou um terrível e deplorável meme na internet, especialmente nos grupos de Whatsapp. Afora a morbidez de quem fez e compartilhou tão cruel imagem, a sanha de sair reproduzindo, republicando, recompartilhando tamanho absurdo despropositado acaba dando régua e compasso para que, seja no sentido da autopreservação, seja por empatia, a sociedade se dê conta de que a espetacularização da tragédia é um risco para todos, sem exceção. Sim, pois o que aconteceu com João Tarantella pode acontecer comigo, com você, leitor e leitora, com quem fez a terrível foto e com quem a compartilhou graciosamente, como se não fosse nada demais! E nem adianta impingir ao blog quaisquer indícios de “mimimi” por se tratar de um drama de alguém conhecido, não! Esse caso serve apenas para escancarar o ridículo de uma atitude que afeta milhares de anônimos que são cotidianamente expostos dessa mesma forma cruel e desumana. Reforçando: poderia ser comigo, poderia ser com você, poderia ser com alguém que amamos… O que importa é entender que se não discutirmos e refrearmos seriamente essa compulsão pela espetacularização da tragédia alheia, nem a autopreservação e nem a empatia, essenciais, sobreviverão a um fenômeno tão recente, quanto mortalmente nocivo: a insensibilidade galvanizada e asséptica, típica do uso irresponsável da internet, quando a distância das pessoas e dos fatos dá a falsa sensação de que aquilo que ocorreu, e com quem quer que tenha ocorrido, jamais pode alcançar a mim, a você, leitor e leitora, ou a alguém que amamos…
P.S. João Tarantella segue em estado grave. Mas vale destacar que ele está no Hospital de Urgência João Alves. Além de ser uma unidade referencial em todas as áreas, se trata de um hospital de excelência no tratamento de traumas neurológicos. Assim, oremos por Tarantella e pelos profissionais que estão cuidando dele. Deus no comando, sempre!