O mandato da deputada federal Yandra Moura (UB) tem sido incrivelmente produtivo. E o senso de oportunidade dela, então, é de um apuro absurdamente preciso! Prova disso é a resposta de Yandra a uma nota bem mequetrefe da Acelen, refinaria localizada na Bahia e privatizada em 21.
Na tal nota a empresa sustentava que não aderiria à mudança de preços dos combustíveis definida pela Petrobrás e manteria a paridade com o dólar no valor da gasolina e do diesel que produz.
Olha, antes de seguir, AnderSonsBlog se sente na obrigação de levantar uma questão: embora a Acelen seja a responsável pela maior parte do abastecimento na própria Bahia e em Sergipe, ela não está sozinha no mercado e, querendo ou não, acabaria baixando os preços pra não perder espaço. Isso é quase que uma regra mercadológica pétrea, né verdade?
Mas é também por isso que a atitude de Yandra merece ainda mais elogios, pois enxergou de forma imediata e clara uma oportunidade de ouro para comprar uma briga da qual ela só sai ganhando, independente do resultado final.
Só que a parlamentar não se limitou a chamar somente pra si essa luta. E, de maneira generosa, inclusive, dividiu os louros dessa batalha fundamental e popular com o governador Fábio Mitidieri (PSD), conforme o vídeo logo abaixo, que consta nas redes sociais da deputada e do governador, pode comprovar.
Aí temos um porém: ao hipotecar apoio a Yandra e à luta contra o disparate da Acelen, o governador vai de encontro a algo defendido pelo seu governo.
Veja, leitor e leitora, Fábio já tem autorizado pela Alese o Programa de Parcerias Estratégicas (PPE) que, trocando em miúdos, se trata de entregar ao setor privado áreas que, atualmente, são exclusivas do poder público.
E embora o tal PPE tenha um escopo bem amplo, indo da Educação à Saúde, por exemplo, a alça de mira do governador, conforme ele já declarou, é a Deso.
Fábio até deu detalhes do que pretende fazer: governo segue na captação da água e passaria, via concessão, distribuição e coleta do esgoto para a iniciativa privada. Novamente trocando em miúdos, teríamos aí uma “privatização” com prazo de validade: o período previsto em contrato para que a empresa vencedora da concessão comande a Deso.
E, nesse caso, a política de preços das tarifas de água e de esgoto, passaria pra mão da empresa, certo? Sim, pois ninguém investiria recursos privados sem a garantia de que lucrará!
Mesmo que tenhamos a Agência Reguladora de Sergipe (Agrese), é lógico que as tarifas seriam definidas por quem prestaria os serviços e com um agravante: a Deso atende a imensa maioria dos municípios sergipanos, incluindo-se a capital. Sem medo de errar, isso representa mais de 80% da população.
E se – atente pra condicionante, leitor e leitora – desse na “telha” do comando da tal empresa que viria a gerir a Deso a mesma “doidice” que deu na Acelen? E se a tal empresa batesse o pé e vaticinasse: “nosso custo é X e nosso preço será Y”?
Nesse caso, ao contrário da Acelen, a Deso nas mãos da iniciativa privada simplesmente não teria ninguém no mercado sergipano para disputar com ela.
Sem concorrência à altura, a Deso, mesmo que estando concedida ao invés de privatizada, tranquilamente imporia seus preços e a população que se virasse, ora pois!
Agora voltemos a Fábio e ao viés “modernizador” proposto por ele até aqui. Essa “modernização” do estado é, sim, uma pauta urgente para o governo e podemos nos preparar que vem muita coisa por aí nesse sentido.
Mas o “gancho” do apoio de Fábio a Yandra contra a “independência” nos preços pretendida pela privatizada Acelen gera muitas dúvidas.
Porém vamos àquela mais incisiva: caso conceda a Deso para uma empresa privada e a política de preços praticada se torne um problema econômico, o governador Fábio Mitidieri se somaria a algum parlamentar que questionasse os valores cobrados pela empresa à qual o governo do próprio Fábio tivesse concedido a Deso?
Complicado, não?
Para encerrar: combustíveis fósseis ainda são muito importantes, especialmente nos transportes, mas têm sido gradualmente substituídos por energias renováveis.
Enquanto isso a água é fundamental para a vida e não tem nada que a substitua, nadinha mesmo, viu?
E aí, leitor e leitora, dá para confiar à iniciativa privada uma área estratégica como a distribuição de água? Sigamos!