A melhor frase para definir a situação atual do presidente da Câmara de Riachão do Dantas, Berinho do Mercadinho (PSD), foi cunhada pelo essencial jornalista Jozailto Lima: “Pelo muito que se apronta, muito se paga”. Aliás, a análise do querido Joza sobre o caso está primorosa (leia AQUI).
Mas mesmo com toda essa problemática riachãoense já tendo sido pisada e repisada à exaustão, AnderSonsBlog vai tentar dar mais uma modesta contribuição para esse necessário debate.
Para além da truculência exercida por Berinho no comando da Casa, indo também adiante dos afrontamentos do presidente aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, ou mesmo ainda só passando tangencialmente pela razão do indiciamento do parlamentar por ataque à propriedade privada – tudo isso já é havido e sabido amplamente –, o que chama muito a atenção de forma negativa é que em pleno século XXI, com tantos debates sobre transparência pública tão avançados e com nossa jovem democracia brasileira seguindo firme e forte, apesar dos trancos e barrancos, ainda há quem acredite que um cargo público é uma espécie de escudo que de tudo protege e, por isso mesmo, acabaria por a tudo permitir.
Explica-se: a partir do caso de Berinho em Riachão, fica claro e evidente que mesmo nas menores cidades é preciso que a sociedade atente para o comportamento de todos os agentes públicos, mas com especial olhar para aqueles que galgaram posições através do voto.
Olha só, leitor e leitora: se a Câmara de Riachão não transmitisse suas sessões, pode ser que os impropérios de Berinho dirigidos aos seus pares passassem batidos – nesse caso, ponto para a transparência e acessibilidade públicas.
Outro ponto: se a democracia, essa senhora tantas vezes criticada injustamente, não prevalecesse, seguramente a imprensa teria que silenciar diante dos descalabros de quem está num cargo importante e se acha acima do bem e do mal, da lei e da ética, de mim, de você e de nós – imprensa livre só funciona em democracias e, mesmo nelas, também precisa ser questionada para que se aperfeiçoe, né verdade?
E, finalmente, se mesmo com essas questões funcionando, com a transparência permitindo que transpareçam – eita, perdão pela redundância, leitor e leitora! – e cheguem a todos os atos praticados na vida pública; se mesmo com a democracia substanciando a imprensa e garantindo-a livre, ainda temos os Berinhos da Vida se arvorando de um poder que não têm, então a vigilância tem que ser intensificada.
E essa missão não pode ser apenas de quem está na política ou com ela se envolve de alguma maneira, não!
Para que arbitrariedades cometidas por agentes públicos, em geral, e por políticos no exercício de mandatos, em particular, não ocorram e prejudiquem a coletividade, é preciso que todo mundo, mas todo mundo mesmo atente, analise, se importe, se indigne e, mesmo que de maneira discreta, se manifeste!
O ponto central é que a sociedade meio que lava as mãos cotidianamente do processo político.
E quando situações terríveis como essa de Riachão ocorrem, qual a manifestação absolutamente senso comum que muita gente boa, mas boa mesmo, se limita a expressar? “Ah, política é isso mesmo. É essa cachorreira! É essa safadeza” e por aí vai!
Tá errado! E sabe a razão? É que truculência, afronta e desrespeito não são coisas que se impõem do dia para a noite. Esse tipo de atitude reprovável vai se criando aos poucos e quando encontra espaço.
E, nesse caso, Berinho e Riachão são exemplares: se lá atrás, quando tentou impedir votação de projeto do Executivo, depois se negando a pautar projetos dos seus pares no Legislativo e desafiando a Justiça ao não acatar decisões, a sociedade tivesse se manifestado claramente e cobrado fortemente uma mudança de atitude por parte do presidente da Câmara, possivelmente não teríamos chegado nas ameaças de jogar vereador pela janela, nem às ofensas aos colegas vereadores a cada sessão e, claro, nem ao ataque ao carro de um crítico que o levou ao indiciamento criminal.
O deputado estadual Marcos Oliveira (PL), uma das boas cabeças pensantes da política sergipana, tem uma frase fantástica: “Político só tem medo de duas coisas: de doença e de falta de voto!”. E é bem por aí mesmo!
Portanto, que Berinho do Mercadinho tenha muita saúde pra não se preocupar com essa primeira questão. Mas que a sociedade riachãoense se posicione e faça Berinho temer severamente pela segunda questão. Afinal, quem é que dá e tira o voto de quem quer que seja? Nem precisa desenhar, né?