Política não é só descer pro play, não! Na verdade, além de um estômago de tubarão, a pessoa, pra atuar diretamente num processo político-eleitoral, especificamente como candidato ou candidata, tem que ter uma determinação inabalável e uma resistência a toda e qualquer prova.
E aqui não se trata de vitimizar os políticos e nem a atividade deles, não! Se trata de reconhecer que quem se dispõe a encarar uma eleição dá a própria cara à tapa franca e abertamente, sem meios-termos, sem arrodeios e sem limites sobre o quanto se pode bater e o quanto se pode apanhar, ora pois!
E justamente por essa característica, digamos, “sanguinária” dos processos eleitorais é que existem regramentos minimamente básicos pra se tentar impedir – atente, leitor e leitora, pro termo “tentar” utilizado por este AnderSonsBlog – que a barbárie, que o vale-tudo, que a força econômica e que a força pela força prevaleçam.
E em tempos de internet, deep internet, fakes e deep fakes, aí é que o bicho pega. E em Sergipe, o bicho finalmente pegou a partir da Operação Dublê, deflagrada pela Polícia Federal na última sexta, 1º, justamente no início da Semana da Pátria, em que celebramos a Independência do Brasil. Seria sintomático, se não fosse trágico! Vai vendo!
A operação da PF, ao menos na ponta do iceberg visível, alcançou um áudio em que o presidente Lula (PT) meio que daria uma espécie de esporro no senador Rogério Carvalho, também do PT, como que o desautorizando a se candidatar ao governo do estado em 22. Uma montagem muito bem-feita, justamente para dar veracidade ao conteúdo mentiroso, que foi apreendida num notebook em poder de Rodrigo Leão que, por sua vez, foi servidor da Comunicação estadual.
Até aqui, tudo entendido, leitor e leitora? Ok, sigamos! O fato é que importa bem menos quem fez, sob quais intenções e se sob o comando de alguém diretamente interessado no resultado das eleições, do que aquilo que realmente tem que importar: a interferência no resultado justo e na lisura do processo eleitoral.
Infelizmente é muito cômodo vermos as discussões girando em torno de nomes, de quem fez, de quem teria mandado e tal. Mas o que vale a pena ser levantado é o impacto no resultado das Eleições 22, já devidamente eivadas de problemas que começam com a inelegibilidade de Valmir de Francisquinho (PL), dono de um cabedal de quase 500 mil votos, sendo revertida pouco mais de uma semana depois do 1º turno. Só aí já temos um escândalo de proporções gigantescas que meio que passaram pra “debaixo do tapete” nas altas rodas de discussões políticas, embora fique cada dia mais claro que o assunto ainda povoa o imaginário – e, com isso, o julgamento – popular! As próximas eleições já darão uma noção do tamanho do estrago feito por essa questão.
Só que agora somamos ao escândalo ocorrido e visto a olhos nus durante o processo eleitoral inteiro, mais um escândalo que não está sendo tratado de forma clara pela mídia, numa espécie de cortina de fumaça simplesmente absurdo.
Pera lá! A pergunta que se tem que fazer é: Rogério Carvalho, senador pelo PT, ter áudio em que Lula, maior nome petista, de maneira fake, falsa e mentirosa transparece não apoiar o próprio Rogério teve que peso no processo eleitoral como um todo?
E mais: sendo Lula o presidente – e não o eximindo de declarações reais desastrosas, como ocorreu também com Jair Bolsonaro (PL), quando presidente – não estaríamos diante de uma perigosa arma de confundir cabeças em termos eleitorais ao se utilizar da maior autoridade da República para a produção de conteúdos fake?
Esse negócio de conjecturar quem está por trás, quem está pela frente, quem está do lado é mera perfumaria! E a PF tem mecanismos pra lá de eficientes pra chegar aos nomes. O que a sociedade precisa ser alertada é do quanto um áudio falso, em que dois nomes do mesmo partido parecem mais inimigos do que aliados, pode ter influenciado na decisão do voto dos sergipanos e sergipanas. Essa é que é a questão realmente necessária a ser debatida.
E antes que o mi-mi-mi governista venha acusar AnderSonsBlog de defesa de Rogério, vamos colocar “os pingos nos is”: Rogério Carvalho é de enfrentamento, tem vídeo dele brigando pelo que acredita, inclusive dentro do PT. E lógico que isso o coloca numa posição beligerante que é responsável pela maior parte das críticas que ele recebe. Só que Rogério não escamoteia, não tem reações fake. Ele é o que nós, nordestinos, costumamos chamar de “sangue no olho”, parte pra cima e pronto! E depois arca com as consequências.
Só que numa eleição que foi decidida com Fábio Mitidieri (PSD) tendo 623.851 votos e Rogério tendo 582.940 votos no 2º turno, sendo que Lula, que esteve em Sergipe por duas vezes para apoiar Rogério e acabar com o disse-me-disse de que ele não apoiaria o candidato petista, sendo ainda que Fábio também declarava voto em Lula, lógico que qualquer suposto mal-estar, ainda que sendo fake, levado a público entre Lula e Rogério tem, sim, potencial para interferir no resultado final. Ainda mais quando, no 2º turno, Lula teve a fábula de 862.951 votos – ou seja: pouco menos de 280 mil votos a mais do que Rogério!
E, de mais a mais, a estratégia governista de insistir, já neste ano da graça de 23, num suposto afastamento de Rogério Carvalho em relação ao governo Lula – de resto provada falsa também pelo fato do senador ocupar a 1ª secretaria no Senado, cargo que cabe ao próprio PT, incluso Lula, a indicação do nome – acaba levando a uma inevitável analogia com o velho ditado: “o costume do cachimbo é que entorta a boca”.
Se Lula não desautorizou Rogério, mas se mesmo assim um áudio fake foi montado exatamente para parecer que Rogério não tinha o apoio de Lula, dizer que isso não teve nenhuma influência no resultado final das Eleições 22 é subestimar a inteligência dos sergipanos.
Novamente: quem fez, quem mandou, quem se beneficiou são coisas para a Polícia Federal descobrir. Agora, analisar o impacto de mais esse escândalo nas eleições do ano passado é uma missão para a Justiça Eleitoral e, de maneira muito objetiva, se trata de uma reflexão que deve permear os debates políticos no seio da sociedade.
E sabe a razão, leitor e leitora? Simples demais: não é nem Rogério que está em jogo, nem é o mandato de Fábio que está em questionamento. É a democracia que está sob ataque a partir de um áudio fake que interferiu, sem sombra de dúvidas, na livre escolha de sergipanos e sergipanas. Sem mais – ao menos para o momento, viu?
3 Comentários
Ribeiro Filho
O interferiu de verdade na eleição para governador, foi o afastamento escandaloso de Valmir se Francisquinho do pleito e anulando seus votos, que somava quase os votos do segundo e terceiro colocado. O povo sergipanoentendeu muito bem a interferência e a mão pesada do judiciário. O resultado foi quase total migração do eleitorado de Valmir, para Fábio Mittidieri. O povo sergipano deu a devida resposta.
Ribeiro Filho
Teremos uma resposta imparcial, se a PolíSSia Federal investigar a inelegibilidade de Valmir e dos seus filhos, é, logo depois que Valmir declara forçadamente apoio a candidatura de Rogério Carvalho, todos voltam a ser elegíveis. O povo sergipano não é besta. A PF continua sendo utilizada como instrumento de ameaça e perseguição a quem possa ser oposição à esquerda. Pega fogo cabaré 🔥 🔥 🔥 🔥 🔥 🔥 🔥
Aderaldo Prata
Essa ladainha vai até quando? Me refiro aos comentários.