Só uma observação: 5 de novembro é o Dia da Cultura. E a outrora garbosamente aculturada Lagarto, nesse exato momento carece de um pouco da poesia do genial baiano Gilberto Gil. Vamos a ela?
“Nos barracos da cidade
Ninguém mais tem ilusão
No poder da autoridade
De tomar a decisão
E o poder da autoridade
Se pode, não faz questão
Se faz questão
Não consegue
Enfrentar o tubarão
Gente estúpida,
Gente hipócrita
O governador (nesse caso a prefeita, né?) promete
Mas o sistema diz “não”
Os lucros são muito grandes
Mas ninguém quer abrir mão
Mesmo uma pequena parte
Já seria a solução
Mas a usura dessa gente
Já virou um aleijão
Gente estúpida
Gente hipócrita”
Depois de Gil, vamos ao que realmente dói: o empresário José Augusto Vieira, das marcas Maratá. Maratinho, Fortlon, Agromaratá, Gota, Adumar e Maratá Sucos, enviou ofício, assinado do próprio punho, a Josivaldo da Equoterapia, representante do Centro de Equoterapia de Lagarto, datado do dia 4 de novembro de 24, informando que, caso não seja desocupado o Parque de Exposições Nicolau Almeida, em Lagarto, o empresária partirá rumo a retirada coercitiva de tudo o que ainda ocupa justamente o parque com a equoterapia no próximo dia 8.
Trocando em miúdos: se a equoterapia não sair, Zé Augusto vai requerer, na Justiça, que a Polícia Militar retire profissionais, pais e mães, crianças e animais do parque de exposições. Isso mesmo, gente: se houver resistência, a força poderá ser usada contra animais, crianças, pais, mães e profissionais que insistam no fato de que o local era público até uma negociação que desrespeitou o atendimento terapêutico de centenas e mais centenas de crianças nos últimos anos em Lagarto. Sim, é cruel, é duro, é absurdo e, infelizmente, tudo isso é real.
Mas, ainda que haja luz no final do túnel, uma vez que o prefeito eleito de Lagarto, Sérgio (PSD), tenha garantido que reverterá essa situação, nesse momento de desespero de tantas famílias, a pergunta a se fazer é: a prefeita em final de mandato, Hilda Ribeiro (Republicanos), já definiu o local em que essas crianças, suas mães e seus pais serão atendidos caso a ameaça de retirada coercitiva se cumpra?
E os animais, prefeita, embora o Brasil inteiro saiba, a partir da revelação do deputado federal João Barcelar (PL/BA), que seu marido, também deputado federal e também do Republicanos, Gustinho Ribeiro,chega a comprar um cavalo por R$ 1 milhão, terão quem cuide deles? Esses cavalos da equoterapia terão um lugar para ficar em segurança, ou serão largados pelas ruas de Lagarto como se a cidade que a senhora deveria administrar fosse uma fazenda?
E, para além dessas duas perguntas, não custa nada fazer uma observação final: porque a turma que foi derrotada nas urnas celebra como hienas e arrodeia como urubus essa tragédia do Parque de Exposições Nicolau Almeida e da Equoterapia de Lagarto como se fosse uma vitória deles?
E, no caso de alguém conseguir explicar a razão de tanta crueldade em forma de mangação na internet contra profissionais, pais, mães, crianças e animais, a pergunta final é: isso tudo é uma vingança contra o povo de Lagarto que lhes tirou da prefeitura pela força democrática e soberana do voto?
Que momento triste que Lagarto está vivendo! Que tristeza! Que decepção!