Antes de tudo, umas informações: o governador Fábio Mitidieri (PSD) têm a sua disposição para locomoção quatro carros estilo SUV cujo custo anual é maior do que o carro blindado a ser locado pela prefeita de Aracaju, Emília Corrêa (PL). E embora nenhum deles seja blindado, a lógica de segurança está explícita na locação: Fábio tem a disposição em seus trajetos mais de um carro para (1) não permitir que um possível agressor saiba em qual dos carros ele se encontra e (2) transportar equipes de segurança em um bom número para garantir a integridade física do governador.
Prefeitos e prefeitas de cidades do interior sergipano, ao menos aqueles que têm juízo, se deslocam em seus municípios ou em viagens pelo estado, especialmente quando vêm à capital, com pelo menos um policial da reserva como forma de garantir a segurança deles.
E, nos dois casos citados acima, tudo está mais do que correto e legalíssimo, sim, porque não é possível ignorar que desde disputas políticas até interesses econômicos vários, passando por crimes comuns e chegando até a possibilidade de pessoas com saúde mental abalada, tudo isso pode colocar em risco a vida de gestores e gestoras que, em última análise, se tornam alvos justamente pela posição de destaque que ocupam e pela necessária acessibilidade que seus mandatos devem permitir à população.
Dito isto, vamos à nova polêmica aracajuana: estaria a prefeita Emília exagerando ao contratar a locação de um veículo blindado para sua locomoção? Na opinião de AnderSonsBlog, não! E essa também é a opinião de dois conhecidos operadores de segurança pública, como é o caso do superintendente da SMTT, Nelson Felipe, que é oriundo da Polícia Rodoviária Federal (PRF), e do secretário de Defesa Social de Aracaju, André David, que é delegado, sendo que ambos têm total cancha e conhecimento técnico para opinarem sobre tal assunto.
Palavra de quem entende
Nelson Felipe, em entrevista a Narcizo Machado, da Fan FM, foi didático. “a gente tinha algumas informações por parte de inteligência que havia alguns riscos para a prefeita Emília (…) foi recomendado não só por mim, mas também pelo delegado André David, que fosse providenciado um carro blindado (…) eu mesmo já fui do trabalho de inteligência e a gente tem contato com os núcleos de inteligência de outros órgãos tanto da União como do estado e a gente vai fazendo esse trabalho e temos o nosso próprio (núcleo) que faz esse trabalho de inteligência que pode chegar a essas conclusões que poderia haver represália (a Emília) usando meios violentos”.
André David, em entrevista a Jailton Santana, da Rio FM, foi direto. “Emília recebeu ameaças em áudio de WhatsApp e nós aconselhamos o carro blindado. Porque o signatário tem que ser protegido. E as equipes de segurança dos signatários são treinadas para isso e se colocam na defesa diretamente. Nesse caso, com um carro blindado, diminui o risco para a prefeita e para a equipe de segurança também”.
Ou seja, leitor e leitora: a decisão pela locação de um carro blindado não é política, é uma decisão técnica indicada por quem faz – e entende de – segurança pública na essência de suas atividades profissionais.
Notícia terrível x Notícia boa
Agora vamos pra o que o título lá em cima chama a atenção: os dois vieses que a notícia da locação desse veículo gera e que deveriam também virar notícia – embora parte da mídia, de maneira totalmente reprovável, tenha optado pela mais pura e simples ‘lacração’. Uma pena!
Vamos começar pelo lado triste dessa história, posto que Emília Corrêa, a prefeita, é, antes disso, mãe, avó, esposa, irmã, enfim, é alguém que tem família. Imagina o desconforto pra família dela ter que ver a prefeita andando em um carro blindado por conta de ameças recebidas? E mais: imaginemos, em caso de um ataque, a comoção na população aracajuana que votou e que acredita nela enquanto gestora? Por mais que tentem criar ‘narrativas’ – ô palavrinha da moda nefasta essa, viu? –, não atentar para o lado humano dessa questão é um atentado à inteligência das pessoas, né não?
Mas tem um outro lado, esse positivo: se ameaças existiram é porque tem gente incomodada com as ações da prefeita. E, sem jamais e em tempo algum acusar ou apontar dedos julgadores para absolutamente ninguém, é preciso destacar que Emília está, nesse início de sua gestão, ‘indo pra cima’ pra tornar transparentes licitações em áreas chaves – e milionárias, diga-se de passagem – como a coleta de lixo e o transporte público, como também não possui relação direta com áreas empresariais como construção, terceirização ou fornecimento de materiais diversos.
Aí, sempre ressaltando que aqui não se está apontando culpa em absolutamente ninguém, não é possível deixar de lado o fato de que se – atenção para a condicionante, leitor e leitora – alguém estava se ‘dando bem’ de forma ilegal em qualquer área de atuação da prefeitura de Aracaju, se – olha a condicionante aí de novo! – alguém teve algum interesse contrariado com novas licitações e contratos e se – e tome condicionante pra ficar claro que este AnderSonsBlog não está a acusar absolutamente ninguém – gente que possa ter perdido uma ‘boquinha’ – ou ‘bocona’, vai saber – se contrariou e se revoltou, lógico que as ameaças podem estar partindo a partir dessas condicionantes, né verdade?
Fatos reais e palpáveis
Este AnderSonsBlog teve acesso a uma informação de bastidores e vem acompanhando as redes sociais de onde ‘pescou’ outra situação que é fato. E, em ambos os casos, suprimiremos os nomes dos envolvidos por uma questão de ética, posto que não há provas cabais de que, nas situações a serem narradas a seguir, essas pessoas estejam diretamente envolvidas nas ameaças contra Emília, embora o que será relatado sirva de exemplos concretos de que riscos efetivamente existem à integridade física da prefeita de Aracaju!
A informação de bastidor é que um empresário, no afã de defender sua empresa no serviço público de Aracaju, tentou conversar com a prefeita em sua residência. Ora, qual a lógica de se procurar a prefeita na casa dela e não na prefeitura? Ficar fora da agenda? Não ter registrada a visita de forma oficial? E o que o município tem a ganhar com isso? Percebe, leitor e leitora, que a partir do momento em que ameaças foram recebidas por Emília, a conjectura da motivação de uma visita à casa da gestora acaba gerando uma justificada desconfiança?
E o caso das redes sociais e dos ataques sofridos nelas pela prefeita é o seguinte: um ex-apoiador da prefeita, por suas razões pessoais que não trataremos aqui, se revoltou após a chegada de Emília ao poder e passou a detoná-la, sem dó e nem piedade, com termos bem chulos, dos quais, em respeito ao estômago do nosso leitorado, destacaremos apenas a ofensa proferida de que Emília seria “biruta”. E essa pessoa é policial! E se, graças a Deus, nada mais grave aconteceu, diante das ameaças sofridas, não se justifica também a desconfiança e o aumento de segurança?
E, como já dito, graças a Deus nada de mais grave aconteceu nesses dois episódios relatados – até porque AnderSonsBlog conhece as duas figuras e sabe que, apesar dos pesares e das discordâncias, se tratam de pessoas de bem que não chegariam as vias de fato. Mas não fica claro que esses comportamentos, digamos, erráticos podem acabar influenciando negativamente e até incentivando marginais que realmente intencionam atentar contra a vida da prefeita? É óbvio que sim!
Oposição pode e deve ser solidária
Por fim, atentemos para os posicionamentos de dois oposicionistas de Emília Corrêa: o vereador Elber Batalha (PSB) e a vereadora Sônia Meire (PSOL). Em suas redes sociais, ambos escracharam a prefeita nesse episódio do carro blindado.
Para Elber, “se a prefeita queria fazer história em Aracaju, está conseguindo. Pela primeira vez na nossa cidade, o chefe do Executivo contrata um carro blindado para o seu uso pessoal”. E aqui está uma falha de Elber: não é para uso pessoal, mas sim para uso institucional, pois a mulher Emília estará protegida não por ela ser ela, mas por ela estar prefeita, né isso? Além disso, o vereador tenta fazer parecer que Emília está ‘escondendo’ algo que, como se sabe, está mais do que transparente. Elber critica a postura de Emília nas redes sociais e fecha um vídeo em suas próprias redes com um discutível “mas quando você não está vendo, é desse jeito!” Pera lá, Elber, e quem é que não está vendo?
Mas é preciso destacar que o papel de Elber é esse mesmo: questionar tudo o que lhe aprouver, afinal ele foi eleito pela oposição e é legítimo todo questionamento. Só não fica claro se, ao fazer um vídeo ‘engraçadinho’ pra criticar Emília, Elber está desprezando a possibilidade de ser pelo menos solidário à prefeita pelas ameaças que ela vem sofrendo…
Agora, possivelmente, para este AnderSonsBlog, a crítica mais cruel e desnecessária à prefeita veio de onde, para a casa aqui, menos se esperava. A vereadora Sônia Meire, por quem nutrimos um profundo respeito e que a própria professora sabe disso, também fez um vídeo ‘engraçadinho’, na linha do de Elber, e trouxe também o ‘fusquinha’ para o baile. “Eis que a prefeita, que andava de fusquinha, agora ela vai utilizar carro blindado que custará mais de R$ 300 mil aos cofres públicos. (…) No caso da prefeita Emília nunca chegou ao conhecimento público denúncias de ameaças ou de risco a sua vida aos órgãos de segurança”. Pera lá, vereadora! Então dois operadores da segurança pública institucional, casos de Nelson Felipe e André David, não têm legitimidade para identificar a necessidade de um veículo blindado? Que que é isso?
E mais: Sônia Meire fala sobre “gastança” de dinheiro público. Ora, a deputada estadual Linda Brasil, do mesmo PSOL, desde que iniciou seu mandato e recebeu ameaças, passou a andar com escolta policial para a proteção não apenas da pessoa Linda, mas da deputada Linda. E essa escolta é de graça e não tem custos ao erário? Que que é isso de novo?
E, nos finalmentes, vamos a um triste fato: em 14 de março de 2018, a vereadora carioca Marielle Franco, do mesmo PSOL de Sônia, e seu motorista, Anderson Gomes, foram covardemente assassinados em uma emboscada. Marielle, como todos sabem, ficou conhecida pelas denúncias que fazia sobre grilagem de terras e utilização delas para a construção ilegal de prédios residenciais. Depois de anos se elucidou o crime e a família Brazão, muito forte na política do Rio de Janeiro, teve membros envolvidos. Uma tragédia absurda, até porque, diante do poder que já detinham, os envolvidos, num mundo ideal, nem poderiam e nem deveriam cometer um crime tão bárbaro e que chocou o país!
Acontece que, infelizmente, naquela fatídica noite, mesmo tendo denunciado as ameaças que sofria, Marielle Franco nem tinha escolta policial e nem estava em um carro blindado…
Sem mais!