Adeus a Valmir Monteiro chama o feito a ordem: não dissociem tamanha perda nem da política, nem das traições e nem da entrega plena dele a Lagarto, estamos combinados?

Lá no século passado, salvo engano no ano da graça de 1989, o cabra que vos escreve aqui era um sonhador. E daqueles bem brabos: acreditava piamente que o mundo se deixaria transformar única e exclusivamente pelos próprios ímpetos juvenis.

E, de certo modo, transformações realmente ocorreram, embora sem a magnitude suficiente pra fazer o mundo inteiro mudar. Um exemplo foi a assunção, no ano anterior, à presidência do Grêmio Estudantil do Abelardo Romero Dantas, o indefectível Polivalente – a melhor escola estadual de Lagarto.

Ou seja: mesmo sem mudar o mundo, este AnderSonsBlog fazia a sua parte. E, vamos e venhamos, a ideia de um mundo melhor só tem sentido se cada um fizer a parte que lhe couber, né isso?

Aí, naquele 1989, com a intenção de fazer um campeonato de futsal interno no Polivalente, a casa aqui, devidamente na companhia de seu vice-presidente naquela gestão do grêmio do Polivalente, o imensamente saudoso Marcos Aurélio Bastos – por quem derramei lágrimas na mesma intensidade das que brotam agora dos mesmos olhos que olham pra tela ao escrever esse texto –, a ideia foi procurar Valmir do Mercadinho Maciely – atente, leitor e leitora: Valmir era do Mercadinho à época e adiante se explicam as ‘mutações’ nominais dele, beleza?

A razão de buscar o apoio de Valmir? Simples demais: o futsal era uma paixão imensa daquele baixinho a ponto do time da Madeireira São José – cujo nome máximo, seja jogando, seja organizando, era o de Almir, mais um saudoso lagartense e que era carne e unha de Valmir – ser a referência, ser o time a ser batido em Lagarto e mesmo em outras plagas.

E de quem era a Madeireira São José? De Valmir, herdada de seu Zezito, seu pai, também uma figura humana daquelas que fazem muita falta ao mundo – já captou, leitor e leitora, a razão da alcunha de Valmir da Madeireira? Pois é…

Naquele seu jeitão bem bonachão, sem frescuras e nem mesuras tolas – algo que, por conta da política e das disputas futuras, tivesse quem, equivocada e mal-intencionadamente, impingisse como sendo fruto de soberba e arrogância inexistentes –, Valmir nos atendeu e perguntou na lata: “o que é que vocês querem?”. E a gente, também na lata, respondeu: “dinheiro de patrocínio”. Depois de chorar chorumelas, como é de praxe, Valmir meteu a mão no bolso e apoiou nosso modesto campeonato interno.

Mas na saída, nas despedidas e agradecimentos, este AnderSonsBlog não mediu palavras e tascou um ‘você vai entrar pra política?’. Valmir, da maneira mais política possível, disse que só entraria se fosse um “desejo do povo”.

Daquele momento em diante, com o campeonato devidamente realizado e com o nome de Valmir dentre os patrocinadores, nossos contatos foram extremamente esporádicos por conta da saída deste que vos escreve da política estudantil.

Mas nossos caminhos voltariam a se cruzar, ainda que indiretamente, em 1996. Naquele ano, candidato a prefeito de Lagarto pela primeira vez, confirmando nossas impressões externadas lá em 1989, Valmir – aí já definitivamente da Madeireira – recebeu um apoio político-eleitoral de peso na figura de Aderaldo Prata.

Deraldo, como chamo meu pai – ‘alô, Deraldo, cuida da saúde que a gente ainda tem muita coisa a fazer pro mundo melhorar, viu?’ –, sempre esteve no mesmo lado político lagartense, o Saramandaia.

Mas ele viu em Valmir a chance de romper esse dualismo, visto que Valmir, mesmo sendo candidato pelo agrupamento Bole-Bole – e voltarei a isso mais adiante pra falar claramente sobre um tema doloroso: a traição –, era um cabra com brilho próprio, com capacidades individuais incontestáveis, um ‘self made man’, como os norte-americanos se referem a quem construiu a própria história a partir de seus próprios esforços.

Só que naquela eleição não deu pra Valmir. Jerônimo Reis foi eleito e este AnderSonsBlog, que havia ingressado na radiofonia em 1990 na Eldorado FM – a rádio do Bole-Bole –, naquele ano de 1996 dava o ‘sangue’ pela Aparecida FM – a rádio, ao lado da Progresso AM, do Saramandaia.

Lógico que a questão familiar tinha seu peso. Mas o profissionalismo falava mais alto – até porque, desde 1994, já existia Lucas, saudoso e inesquecível filho, e as responsabilidades que a paternidade exige, né isso? – e não seria possível nada mais do que desejar boa sorte a Valmir.

Mas aí chegou 1998 e Valmir da Madeireira se candidatou a deputado estadual. Naquele momento, contra tudo e contra todos – sim, Valmir foi candidato sem apoio nem do Saramandaia e nem do Bole-Bole –, era necessário um canal de comunicação efetivo – lembre, leitor e leitora, que as rádios em Lagarto tinham e têm lados bem definidos, ok? – pra que Valmir aparecesse e crescesse politicamente.

E a solução foi colocar no ar um transmissor de FM que AnderSonsBlog comprou em São Paulo quando ainda era sócio em eventos festivos de Marquinhos AMS. Em 1998 a sociedade já não mais existia, mas Marquinhos ficou com o transmissor e o negociou com Valmir – ‘alô, Marquinhos, não se trata de cobrança, não, viu? Mas, quando puder, mande a minha parte daquela negociação que eu agradeço penhoradamente, beleza?’

Ali tivemos o apoio jurídico de Nitinho, coligado 100% fechado com Valmir, e entrou no ar a Recreativa FM. Como a legislação sobre rádios comunitárias ainda engatinhava, a emissora ficou no ar sob liminar durante as eleições de 1998. E foi um sucesso tremendo. Para além disso, o compadre Nildo José, fez toda a logística daquela campanha e Valmir se elegeu deputado estadual pelo PSC com sofridos, mas muito bem-vindos, 8.493 votos.

E sabe o que aconteceu com Valmir logo depois de se eleger naquele ano? O cabra contraiu uma meningite, gente! E quem estava ao lado dele, literalmente falando, era Baia, atualmente BaiaTur, militando hoje ao lado do agrupamento Saramandaia – ‘alô, Lagarto. Baia é gente de bem e do bem e está concorrendo neste ano da graça de 24 a uma vaga na Câmara de Vereadores, viu?’ – e que não deixa a casa aqui mentir.

Internado em Riachuelo, Valmir se safou, graças a Deus. E começou seu mandato em 1999. Como tivemos alguns e bons e fortes entreveros na eleição, AnderSonsBlog nem o procurou em relação a qualquer tipo de sinecura no primeiro mandato dele e a nossa amizade se manteve – talvez até por isso mesmo, visto que ‘cobranças’ pós-eleição nem sempre são pacíficas, né verdade?

Em 2000 novamente nossos caminhos se cruzaram: Valmir foi candidato a vice numa chapa encabeçada por Cabo Zé, eleição em que este AnderSonsBlog se envolveu radiofonicamente, aí na Eldorado FM, e Jerônimo se reelegeu.

E em 2002 foi a vez de Valmir se reeleger deputado estadual com 15.281 votos. Mas como a casa aqui já estava em outras atividades profissionais, não marchamos juntos, o que se repetiu em 2004, quando Valmir tentou a prefeitura de Lagarto pela segunda vez, sem sucesso, se reelegendo pra Alese em 2006 do alto de seus 20.912 votos.

Já em 2008, a redenção eleitoral lagartense: aquele filho de Salgado, do povoado Água Fria, mas lagartense de coração acima de qualquer suspeita, finalmente se fez prefeito da cidade que o fez gente, que oportunizou a ele tudo o que de mais valoroso se pode desejar da vida pública em termos eleitorais.

Em 2012, buscando a reeleição como prefeito de Lagarto, Valmir sofreu novo revés. Mas, em 2014, com 26.032 votos – percebe, leitor e leitora, a forma crescente e contínua de Valmir em relação as votações obtidas ao longo dos anos em que ele esteve diretamente na política e concorrendo? – se elegeu pela quarta vez deputado estadual.

E quando chega 2016, novamente disputando a prefeitura de Lagarto, Valmir retorna de maneira triunfal ao comando do município. E é aqui que essa incrível história de vitórias, derrotas e superações ganha seus contornos mais tristes e amargos.

E antes que venham com ‘mimimis’, a casa aqui manda logo a real: mesmo que já tenha trabalhado ou prestado serviços pra todos os agrupamentos políticos possíveis e imagináveis em Lagarto enquanto profissional de Comunicação, mantendo o respeito por todos, AnderSonsBlog é lagartense e ama demais a cidade em que nasceu.

Por isso mesmo é que aceitou o convite de Valmir para cuidar da Comunicação lagartense em 2018. Mas ter visto e vivido o que viu e viveu, leitor e leitora, é das coisas mais incômodas já vistas e vividas por este que vos escreve. E qual a razão de não ter externado isso antes? Pois é, a razão tem nome e sobrenome: Valmir Monteiro.

Quando no final de 2018, com Valmir sendo afastado da prefeitura, a única ação eticamente possível era perguntar ao próprio Valmir o que fazer. E ele, na sua grandeza, disse: “fique até que eu resolva essa questão pra que não digam que eu estou sabotando a prefeita”.

Assim, entre novembro e dezembro de 2018, atendendo ao pedido e a orientação de Valmir, a casa aqui se manteve na gestão interina da vice dele, Hilda Ribeiro. Com o retorno de Valmir, seguimos trabalhando.

Mas em 22 de fevereiro de 2019, data fatídica em que Valmir não foi apenas afastado da prefeitura, mas sumariamente preso, passando cerca de 120 dias com sua liberdade cerceada, a casa aqui deu exatas 23 entrevistas naquele único e mesmo dia. Só que não foi a rouquidão ao final daquela fatídica data que incomodou, afinal se tratava de trabalho e ponto.

O que incomodou de verdade foi a desconsideração ocorrida a partir daí. Quando os 10 dias constitucionalmente definidos como prazo máximo pra que uma gestão não siga acéfala, substituindo-se o titular, no caso lagartense pela vice-prefeita Hilda, este AnderSonsBlog fez a sua parte e caiu fora. Simples assim.

Mas quando os dias se passaram e a gestão da ‘nova’ prefeita optou por exonerar todo e qualquer nome que tivesse qualquer que fosse, ainda que mínima, ligação política com Valmir, aí o caldo entornou de vez.

E foi aí que a traição se fez faca afiada pra cortar a carne. E foi aí que a incapacidade de ter os votos necessários pra chegar até a prefeitura de Lagarto se tornou óbvia.

“Ah, mas Hilda se reelegeu em 2020”, podem argumentar pessoas realmente sérias, embora ingênuas, além dos ‘bolsazapeanos’ de plantão, esses devidamente pagos pra sustentar esse tipo de tese furada.

Só que a resposta é por demais óbvia: em 2020, com Valmir fora de combate e com a cidade de Lagarto em choque por conta de tudo que aconteceu com o mesmo Valmir, um sorriso midiático acabou funcionando.

Mas em 2024, com tudo o que aconteceu e segue acontecendo em Lagarto, com Valmir tendo sido vitimado por tantas traições e crueldades ao longo desses últimos anos, que o povo seja sábio e senhor das suas decisões.

Por fim, mas não menos importante, que Valmir Monteiro, querido amigo de ontem, hoje e sempre, encontre a paz na vida eterna. E que esse sentimento se assemelhe a alegria que vi no rosto de uma mãe de família que saiu duma casa de taipa pruma moradia digna lá na região do povoado Oiteiros, distante dos olhos de quase todos, mas absolutamente dentro do imenso coração de Valmir que sempre esteve entregue a Lagarto.

Simplesmente Valmir.

 

 

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1 Comentário

  • Helenizia

    11 de agosto de 2024 - 08:11

    Parabéns Anderson sabias palavras, e que história linda e verdadeira. Simplesmente Valmir 👏👏

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