Ainda Estou Aqui: melhor filme internacional no Oscar 25 e cabô! Mas teve quem ‘torcesse o bico’! Seriam ‘patriotas’ torcendo contra o Brasil? AnderSonsBlog vai tentar jogar luz sobre tudo isso

Senta que lá vem textão! Todo mundo já escreveu sobre a histórica vitória brasileira no Oscar 25 de Ainda Estou Aqui. Assim, dispensaremos maiores detalhamentos, aproveitando apenas para, nesse início de análise, lembrarmos o seguinte: esta foi a 97ª edição do prêmio maior do cinema mundial. Ou seja: levamos quase 100 anos pra conseguir a primeira estatueta pro Brasil! Só isso já diz muito sobre a importância desse prêmio ter, finalmente, chegado!

Mas a ‘demora’ em escrever sobre essa vitória se deveu a um fato bem específico e que é uma prioridade da casa aqui: opiniões! Sim, opiniões livres e desimpedidas que, invariavelmente, seriam emitidas à farta no ‘day after’ da premiação e da conquista.

E não deu outra: em meio a imensa maioria de manifestações felizes e celebradoras, acabou aparecendo gente com opiniões bastante enviesadas – e também intensamente enfezadas – detonando Ainda Estou Aqui e seu sucesso inegável.

E aqui temos mais uma máxima que AnderSonsBlog coloca em prática cotidianamente: toda e qualquer opinião pode e deve ser respeitada, embora não seja imperativo se concordar com ela. Mas também é preciso deixar claro que algumas opiniões podem e devem ser contestadas frontalmente pelas ‘imprecisões’ nelas contidas – isso pra não ir logo com uma ‘voadora na caixa dos peitos’ e detonar certas ‘falas’ por serem meras tentativas de criação de fake news, ora pois!

Então, bora lá: embora reconheça não ser o ‘máximo do máximo’ em termos de audiência, limitando-se a sua, como bem sempre disse o querido amigo e jornalista Cláudio Nunes, ‘meia dúzia de leitores’, a casa aqui não vai declinar o nome da ‘suposta celebridade da extrema-direita’ que, num vídeo que corre na net, chegou a hostilizar o prêmio de Ainda Estou Aqui por que, segundo ele, “não torceria por quem não se solidariza com os presos pelo 8 de janeiro e que diz ‘sem anistia’”. E a não citação dessa figura é mesmo para não dar audiência a ele e quem quiser – e tiver saco! – que vá procurar o tal vídeo.

Mas aqui é que chegamos ao fato que precisa ser analisado de maneira a ‘desmontar’ o argumento ‘maldoso’ da opinião explicitada acima: lógico que os ‘contra’ Ainda Estou Aqui se manifestam única e exclusivamente pelo viés ideológico, pois o filme retrata um período duríssimo da história brasileira que foi a Ditadura Militar.

Só que comparar a perseguição sofrida pelo ex-deputado federal Rubens Paiva, que culminou com, primeiro, o seu ‘desaparecimento’ e, depois, finalmente, com o estado brasileiro reconhecendo o seu assassinato pela repressão militar da época, não tem e nunca terá nada a ver com o episódio, ‘defendido’ pelos ‘patriotas’, que foi o 8 de janeiro de 23!

E a canalhice desse argumento pífio é fácil demais de apontar: como base de comparação, Rubens Paiva, que é apontado pelos tais ‘patriotas’ como um financiador dos ‘comunistas’ que queriam derrubar a ditadura vigente, mas também apontado por gente séria, que estuda a história brasileira, como um democrata que, humanisticamente, agia para que cartas de exilados políticos brasileiros chegassem até as suas respectivas famílias, nem sequer foi preso, na acepção da palavra.

O que aconteceu com Rubens Paiva – retratado em Ainda Estou Aqui e seguramente por isso mesmo tenha levantado a ‘indignação’ dos autoproclamados ‘patriotas’ – é que ele foi detido, levado para um aparelho repressor estatal e de lá jamais tenha saído com vida, tendo seu corpo simplesmente ‘desovado’ de uma maneira tão cruel que seus restos mortais nunca foram encontrados, impedindo que sua família pudesse, ao menos, enterrá-lo e se despedido de maneira minimamente digna!

E o que é que a família de Ruben recebeu? Ora, Eunice Paiva, tão magistralmente interpretada por Fernanda Torres, também se tornou vítima da repressão sob tortura, juntamente com uma de suas filhas, e teve que criar sozinha os cinco filhos dela e de Rubens – nestes incluso Marcelo Rubens Paiva, que escreveu o livro que deu origem ao filme.

E independente de qual fosse a participação de Rubens Paiva numa tentativa de derrubar o governo militar da época, cadê o devido processo legal pelo qual ele poderia e deveria ter passado, isso se no ano de seu assassinato, 1971, houvesse Estado Democrático de Direito no Brasil? Cadê a presunção de inocência constitucionalmente garantida? Cadê um julgamento justo e que permitisse que Rubens e sua defesa sustentassem a sua inocência?

Nada disso aconteceu com ele e o seu desaparecimento e morte só comprovam que o estado brasileiro, à época, através de seus instrumentos repressivos, investigava, prendia, torturava e matava! Tem alguma versão que divirja disso diante de um caso que, agora, se tornou de amplo conhecimento público através de uma obra cinematográfica? Pois é, né?

E agora cortemos para o 8 de janeiro de 23, quando uma turba invade as sedes dos três poderes em Brasília, Legislativo, Executivo e Judiciário, depredam geral e irrestritamente e, pra piorar a situação, ainda produzem provas contra si mesmos ao lançarem nas redes sociais uma ruma de vídeos em que defendem um ‘golpe de estado’!

E ainda que tenhamos a máxima boa vontade com os participantes dessa ‘ópera bufa’, é inegável que foram os próprios que se posicionaram de maneira autoritária e agressiva no sentido de desmerecer a decisão das urnas, que elegeu Lula (PT) como presidente, única e exclusivamente para manter Jair Bolsonaro (PL) no comando do Executivo brasileiro – e nem adianta a argumentação de uma suposta ‘fragilidade’ das urnas eletrônicas por que se algo já tivesse sido efetivamente provado, será que não já teria vindo à tona?

Então, leitor e leitora, o que aconteceu com esses tais ‘patriotas’ que badernaram Brasília? Foram presos e estão sendo julgados à luz do… Estado Democrático de Direito! Têm direito à ampla defesa e, conforme os julgamentos vão ocorrendo, têm variadas penas aplicadas.

Já teve gente condenada a muitos anos de prisão e já teve quem foi libertado com condições específicas, como uso de tornozeleira e proibição do uso de redes sociais. E mesmo que algumas penas sejam realmente duras, alguém sabe ou soube de alguém que foi preso pelos ‘atos’ daquele 8 de janeiro e que acabou assassinado e tendo seu corpo ‘desovado’ de uma maneira tão cruel que a família jamais teve como enterrar? Entende, leitor e leitora, como usar o tal 8 de janeiro para ‘justificar’ uma torcida contra o Ainda Estou Aqui é uma tremenda desonestidade intelectual?

Mas, pra ficar mais claro ainda, que tal um exercício de imaginação? Imaginemos que os protestos de 8 de janeiro de 23 tivessem ocorrido no fatídico ano de 1971: será que essas pessoas que, hoje, respondem em juízo pelos seus atos, estariam presas e sendo julgadas ou já estariam mortas e com seus corpos desovados?

E mais uma: será que se Rubens Paiva, no ano da graça de 23, tivesse financiado a tentativa de derrubar o governo em vigência ou mesmo se tivesse entregado cartas de exilados aos seus familiares, teria sido assassinado e seu corpo desovado ou será que ele estaria preso e em julgamento, sendo-lhe assegurado o direito a ampla defesa? Nem precisa desenhar, né verdade?

Por fim, mas de maneira alguma menos importante, Ainda Estou Aqui venceu o Oscar 25 por ser um filmaço! Walter Salles fez mais uma obra prima – Central do Brasil já o era, mas, naquele Oscar 99, A Vida é Bela, de Roberto Benigni, realmente era um filme muito acima da média e mereceu o prêmio de melhor filme estrangeiro, como era nominada essa premiação à época –, Fernanda Torres é diferenciada, Selton Mello é simplesmente Selton Mello, todo elenco é absolutamente certeiro, toda a equipe técnica é de um profissionalismo ímpar e, finalmente, o Brasil merece, pode e deve comemorar o trabalho de brasileiros e brasileiras alçado ao topo do mundo! Simples assim!

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