Olha, leitor e leitora, o nome do cabra era Agenor de Oliveira – ao menos ele achava isso até ter que providenciar os documentos para casar com sua última mulher, Dona Zica, quando descobriu que, no seu registro de nascimento, estava lá ‘Angenor’.
Mas aquele menino pobre nascido no Catete, no Rio de Janeiro, que depois foi com a família para Laranjeiras, bairro dos seu time do coração, o Fluminense, e que depois foi, sempre com a família, para o nascente morro da Mangueira, lugar que ficou eternizado na história dele e de todo o samba brasileiro, pois foi onde ele e mais seis amigos fundaram a Estação Primeira de Mangueira, uma das mais tradicionais escolas de samba da história, era Agenor, era Angenor, mas, acima de tudo, era Cartola!
O apelido veio de um chapéu coco que usava para impedir que cimento caíssem nos seus cabelos quando trabalhava de pedreiro. A galera dizia: “fala, Cartolinha”. E foi indo, foi indo e um dos maiores compositores brasileiros ganhou o nome definitivo de Cartola.
Com centenas de músicas compostas, a vida não lhe deu mole, não! Perde a mãe ainda jovem, é expulso de casa pelo pai que não lhe dava moral nenhuma por ser o ‘típico’ malandro carioca, levando a vida de bar em bar, de cabaré em cabaré, passando de entre cochas e entre cochas, com uma porrada de doenças venéreas no meio, dormindo em vagões de trem, Cartola era apaixonado pela vida boêmia e teve três relações mais duradouras, sendo a última, a definitiva, com Dona Zica – sabia, leitor e leitora, que Cartola e Zica, nos anos 1970, fundaram uma casa chamada Zicartola, que durou apenas dois anos, mas que foi pioneira do que a gente hoje chama de ‘barzinho com música ao vivo’?
E todo mundo queria gravar um samba de Cartola, que começou a ganhar algum dinheiro com isso ainda na década de 1930. Mas, boêmio que é boêmio não liga pra essas coisas e a primeira casa própria propriamente dita dele só veio com quase 70 anos e não foi em Mangueira, mas em Jacarepaguá.
E veja como o destino é algo incrível: mesmo com todo mundo querendo gravar suas músicas, ele mesmo só teve o primeiro álbum solo, com ele mesmo cantando músicas suas e de parceiros, em 1974, ao 66 anos. E até a sua morte, em 1980, aos 72 anos, foram quatro álbuns que têm músicas que hoje, 45 anos depois de seu falecimento, ainda são sucessos fenomenais por serem músicas muito acima da média.
Ao longo deste domingo o nosso MÚSICA É TUDO homenageia Cartola, um cabra em que a pecha de gênio da música brasileira lhe cai perfeitamente, elegantemente como se fosse uma cartola mesmo a cair certeiramente numa das cabeças mais privilegiadas do cancioneiro popular brasileiro.