Antes de entrarmos no mérito da votação que manteve o veto da prefeita de Aracaju, Emília Corrêa (PL), ao projeto do vereador Camilo Daniel (PT) que previa o não repasse de recursos públicos às empresas de transporte que não cumprem com suas obrigações trabalhistas, é preciso voltar um pouco no tempo.
E essa ‘viagem’ ao passado foi facilitada pelo depoimento da ex-rodoviária Ivana Rodrigues, que se manifestou na Câmara de Aracaju antes da votação desta quinta, 13. “Trabalhei quase nove anos lá e, após sair, estou aguardando há quase sete anos para receber a minha rescisão trabalhista. Não somos contra o subsídio, mas como justifica que uma empresa que não paga há três anos o 13º e há 12 anos atrasa salário, receba dinheiro público?”, argumentou Ivana.
E olha que coisa, leitor e leitora: Ivana, ao se referir à empresa Progresso, está 100% certa! Só que o veto de Emília ao projeto que proibiria essa mesma empresa, ou qualquer outra que venha a falhar na questão trabalhista, de receber subsídio para a garantia de um preço minimamente acessível para o transporte público, também está 100% certo! Difícil de entender? Então segue o fio que AnderSonsBlog explica.
Quanto ao argumento da ex-rodoviária, nem se tem o que dizer. Mas basta pegar uma informação que ela passa, a de que a empresa em questão está atrasando salários há 12 anos, para entender o porquê Emília não poderia colocar em risco todo o sistema por conta de uma empresa. Vê só: 12 anos! Repetindo: 12 anos! E Emília está prefeita há exatos 73 dias! Isso mesmo: 73 dias!
Então, se Emília não vetasse o projeto de Camilo Daniel, a Progresso teria que parar as suas atividades e, isso é um fato, as demais empresas restantes não conseguiriam, sozinhas suprir as necessidades totais da população aracajuana no transporte público! É muito simples de entender, ora pois!
Assim, se alguém tem que ser cobrado por uma empresa que descumpre a lei trabalhista ainda estar no sistema de transporte aracajuano, esse alguém teria que ser o ex-prefeito Edvaldo Nogueira (PDT), prefeito por 8 dos 12 anos citados por Ivana logo acima, né? Mas, como diria o ex-prefeito de Lagarto, Cabo Zé, “político sem mandato é rolete de cana chupado!”.
Portanto, coube a Emília Corrêa ‘comer a bronca’ deixada pelo seu antecessor e ela fez isso de maneira altiva, firme e sem tergiversar. Foi duramente criticada por seus adversários, especialmente pelos vereadores Camilo Daniel e Elber Batalha (PSB), e não esmoreceu.
Teve, sim, uma campanha midiática que tentou impingir nela a injusta fama de que ela estaria ‘protegendo’ uma empresa de transporte – há até quem garanta que houve uma ‘operação’ nesse sentido, mas nesse mérito AnderSonsBlog não entrará, pois essa informação se dá por meio de um ‘zum zum zum’ danado, mas ninguém ‘dá as caras’ pra valer, se é que o leitor e a leitora me entendem, né?
Mas nada disso foi capaz de parar Emília no seu propósito de não deixar o sistema de transporte público aracajuano colapsar até que, enfim, ela consiga fazer uma licitação decente para esse importante e necessário segmento do serviço público na capital sergipana.
Vale destacar que a licitação deixada pelo ex-prefeito estava eivada de falhas, conforme apontaram o Tribunal de Contas de Sergipe (TCE/SE) e o Ministério Público de Sergipe (MP/SE). E é lógico que a decisão de a cancelar desagradou quem por ela se beneficiaria. Daí a razão de tanta grita em torno do cancelamento!
E, subsidiada pelo TCE/SE e pelo MP/SE, qual seria a lógica de Emília se compromissar com o erro? Nenhuma! Caberá a ela fazer uma licitação qualificada para que, ao final e ao cabo, se corrijam distorções, falhas trabalhistas, sucateamento da frota e outras questiúnculas que permeiam o transporte público de Aracaju nas últimas décadas.
E tem mais um detalhezinho: o subsídio em questão, bradado como ‘cheque em branco’ de R$ 50 milhões para as empresas – atente, leitor e leitora, para o plural no ‘as empresas’, viu? – não é para ‘custear’ essas mesmas empresas, não! Na verdade, ele serve para garantir a manutenção do preço da passagem. Que, aliás, era R$ 4,50 no ano passado e foi congelado nos mesmos R$ 4,50 pela gestão de Emília Corrêa – ponto esse nem citado, diga-se de passagem, por quem tanto criticou a prefeita nesses últimos dias!
Por fim, mas não menos importante, com uma vitória de 16 votos contra 8, com 1 abstenção – nessa votação a presidência da Câmara não precisou votar por não ter havido empate – Emília Corrêa demonstrou força na Câmara de Vereadores em um tema polêmico. E isso é sintomático, pois comprova que a prefeita está em plena e total forma na hora de enfrentar projetos que sua gestão considere negativos para a coletividade. E é aquela história: na democracia, dentro do Legislativo, a vitória da maioria é sempre uma conquista motivada pela capacidade de mobilização, de argumentação e, claro, de votos!
Emília Corrêa passou – e muito bem! – pelo batismo de fogo que é uma votação em plenário na Câmara em condições de altíssima temperatura e pressão! E agora, com o sistema de transporte público, mesmo com suas falhas, mantido, é trabalhar para que a nova licitação saia no menor tempo possível e melhore esse serviço para a população aracajuana que, em última instância, pelo menos não sairá ainda mais prejudicada nesse momento já que o sistema não colapsará! Nem precisa desenhar, né verdade?