Eita Nelson Rodrigues sempre imprescindível, né não? Vamos a mais uma citação do grande jornalista e dramaturgo: “o mineiro só é solidário no câncer”. A frase, citada na obra rodrigueana “Bonitinha, mas Ordinária”, é atribuída pelo próprio Nelson ao também jornalista Otto Lara Resende. Já Otto assegurava ser essa mais uma das sacanagens que Nelson fazia questão de só aplicar em seus mais diletos amigos, pois garantia jamais ter dito tal impactante frase. Registro histórico feito, vamos à vaca fria da política nossa de cada dia: na semana passada, o prefeito de Salgado, Givanildo Costa (PT), mandou para a Câmara de Vereadores um projeto de modernização da administração municipal. Foram vários pontos abordados, mas um, em especial, chamou a atenção de AndersonsBlog: a redução do número de secretarias municipais, que passariam das atuais 14 para apenas 8. A assessoria do prefeito argumenta que, apenas nesse quesito, por conta dos gastos com material de expediente, aluguéis, veículos, combustível e afins, a gestão salgadense teria consideráveis 43% de economia. Acontece que o prefeito não possui maioria na Câmara e, assim, a votação do projeto acabou empatada: 5 a 5. Nesses casos, cabe ao presidente da Casa o chamado “voto de minerva” para desempatar a peleja legislativa. Pois bem, o comandante da mesa diretora, vereador Civaldo Fraga (Solidariedade) votou contra o projeto e Salgado, por conta da decisão soberana da maioria dos vereadores, segue com suas mesmas 14 secretarias e sem a necessária redução de despesas, isso num município sabidamente pobre e extremamente dependente de repasses federais para custear a máquina e os serviços públicos. Lógico que os vereadores oposicionistas argumentaram que o projeto, como um todo, possuía pontos questionáveis, e isso é do jogo. Acontece que, nesses casos, em se levando a sério o argumento da oposição, a solução legislativa é clara: quem discordava de pontos específicos do projeto poderia apresentar emendas e, assim, corrigir o que considerava falho. Simples, né? Bom, mas ao rejeitar o projeto como um todo, a Câmara de Salgado, via bancada oposicionista, prestou um desserviço absurdo à população. Afinal, como discordar da redução de 14 para 8 secretarias em um município pequeno e sem maiores fontes próprias de recursos? Parece até não haver uma explicação lógica para isso, né não? Mas AndersonsBlog vai desanuviar o cenário pra você, leitor e leitora, poder fundamentar melhor sua avaliação desse episódio pitoresco. Civaldo, o presidente, foi eleito e segue filiado ao Solidariedade, partido que perdeu o comando da prefeitura em 2020 por uma nesguinha de votos, coisa de 98 deles, visto que Givanildo venceu com 6389 contra 6291 de Ivan do Ônibus, candidato do… Solidariedade! Mas a coisa toda se aprofunda ainda mais para, ao final, deixar claríssima a intenção dos vereadores oposicionistas salgadenses: o ex-prefeito da cidade, Duílio Siqueira, filiado ao Solidariedade e principal apoiador de Ivan do Ônibus, é cunhado do presidente estadual do… Solidariedade, o deputado federal Gustinho Ribeiro. Diante disso tudo, ainda que Civaldo jure de pés juntos que sua decisão foi autônoma e que optou por desempatar a votação, sendo contra a redução de secretarias e sua consequente economia, por conta própria, não dá para relevar que seu líder local, umbilicalmente ligado ao líder estadual do seu partido… o Solidariedade, quer mais é que a gestão do prefeito Givanildo dê com os burros n’água e com a cara na parede, ora pois! E isso é do jogo, claro! Mas ao não apoiar a redução de secretarias, sendo voto decisivo na derrota de um projeto que previa justamente isso, Civaldo deu sinais claros de que o seu Solidariedade, em relação ao povo de Salgado, também só deve ser “solidário no câncer”. E olhe lá, viu?