CONCORDAMOS EM DISCORDAR – Jornalista Luiz Eduardo Costa sustenta que DESO, nas mãos do governo, seguirá ineficiente. Já AnderSonsBlog advoga que governos ineficientes é que fazem uma DESO ineficiente

Bora começar a semana com um debate profundo, extenso e intenso? Bora lá, então! O jornalista Luiz Eduardo Costa, por quem este AnderSonsBlog mantém uma admiração e um respeito gigantescos, publicou em seu blog um texto em que desanca a DESO de forma muito firme (leia o original AQUI).

O texto é extenso mas, como sempre, delicioso e cheio de referências históricas, o que o faz merecer ser lido. E somente depois do leitor e da leitora lê-lo é que voltaremos com as discordâncias de praxe dessa coluna CONCORDAMOS EM DICORDAR, beleza? Então, bora pra leitura!

A  CALAMIDADE QUE SE CHAMA DESO

Luiz Eduardo Costa*

A DESO, estatal que em Sergipe cuida muito mal da água e pessimamente dos esgotos, faz algum tempo vem sendo corroída. Especialistas apontam três causas para que cheguemos agora à configuração do desastre.

Seriam elas: baixa capacidade de investir; modelo de gestão desastroso; ingerências políticas e corporativas dilapidadoras.

Sem entrar no mérito desta análise, o fato é que, a DESO, na qual quase todos os seus setores são terceirizados, vive um momento onde a privatização dela, a empresa que tudo terceiriza, é apontada como única saída para escapar de um fracasso, no qual os anarcoliberais sem outros argumentos, apontam o “dedo nefasto” do Estado como a causa de tudo.

Em Sergipe, se for feita uma pesquisa, mais de 70% dirão que apoiam a privatização da DESO. Ao contrário, entre os paulistanos, uma pesquisa revela que a grande maioria deseja que a ENEL, a desastrosa concessionária italiana seja afastada, e os serviços assumidos por qualquer tipo de empresa, estatal ou privada, desde que acabem os colapsos no fornecimento de energia.

Assim, como fica evidente, não existem fórmulas simples, muito menos, que venha a surgir consenso para sacramentar uma possível solução.

Uma das principais metas do governador Mitidieri é privatizar a DESO. Ele anuncia um modelo que seria uma espécie de concessão, e os servidores não seriam afetados.

Qualquer grupo que assuma a DESO evidentemente, terá como meta enxugar a folha, rever contratos de terceirização, modernizar, criar uma empresa sem vícios, sem nichos ocupados por alguns poucos. Quem pretende maximizar lucros, ampliar investimentos, não poderá agir de outra forma.

Isso deixa alarmados alguns setores integrados à engrenagem desconexa de uma empresa muito longe de ser operacional.

Haverá resistências, e em tempos de eleição o imbróglio não deixará de aquecer o clima de campanha.

O ex-governador Jackson Barreto, jamais revelará isso em público, mas, ele intimamente estaria convencido de que se não houvesse rasgado sob aplausos, o projeto de privatização do BNDES, e, ao contrário, livrando-se da DESO, e recheado os cofres, não teria atravessado os perrengues que o atormentaram, e o fizeram perder a eleição ao Senado.

Quando tentava privatizar a ENERGIPE, um trambolho ineficiente, Albano enfrentava pesadas resistências, até na sua base de apoio no Legislativo.

João Augusto Gama, prefeito de Aracaju e querendo executar projetos com parte dos recursos da privatização, inclusive a reconfiguração do centro da cidade e um novo Mercado Municipal, disparou uma das suas “pérolas” com as quais as vezes recheia suas falas incisivas: “A ENERGIPE é um cabide de emprego pra rapariga de deputado”. As esposas passaram a acompanhar a votação dos maridos. As resistências sumiram e, logo, o “cabide” acabou.

No caso da DESO, não houve resistências na Assembleia. E a privatização avança. O debate tomará ou já tomou características ideológicas. O nosso espectro político brasileiro resiste em enxergar o maior desafio da atualidade, que é integrar-se ao novo e imprevisível tempo da Inteligência Artificial, onde poderá haver desemprego em massa, ou rápidas mudanças sociais, quando o conhecimento abrirá novos e insuspeitados horizontes.

Nessa perspectiva, não é admissível alimentar modelos de ineficiência. A DESO piora dia a dia. Os que vivem no semiárido, em Poço Redondo, Porto da Folha, Canindé e tantos outros locais, dependem dos caminhões-pipa providenciados pelas Prefeituras, e há algumas que nem isso fazem.

Falta água, as vezes por semanas, e da DESO não se ouve uma simples explicação. Esse tipo de comportamento omisso é novidade, antes não se chegava a essa impensável ausência. Havia algum zelo em relação ao próprio nome da empresa, que, agora, a cada dia se torna mais intensamente pronunciado com desprezo e raiva pelos que estão a sofrer as consequências.

Em Monte Alegre, Glória, Poço Redondo, aulas têm sido repetidamente suspensas por não haver água nas Escolas. A DESO alcança o recorde desastroso de perder mais de 50% da água que utiliza. Tem a seu desfavor mais um outro recorde, este repugnante: despeja nos canais da cidade toneladas de excrementos, faz o mesmo nos rios do Sal, Sergipe, Poxim.

Utiliza para tratamento dos esgotos uma técnica superada, e vários sistemas de bombeamento estão emperrados. Por conta disso Aracaju fede, dos bairros da classe alta até a periferia.

Ex-prefeito de Poço Redondo, o advogado Junior Chagas criou uma frase de efeito, que tem produzido muito efeito: ”A DESO é inimiga do povo.” O governador Mitidieri inicia a  extensa Adutora do Leite. É obra fundamental para a região, hoje vivendo o boom da agroindústria leiteira e precisando de água. Inicia, também, uma adutora menor, destinada a suprir uma parte da cidade de Poço Redondo, onde os colapsos na adutora antiga são frequentes.

Talvez, por isso, o governador tenha pressa em uma solução, ou seja: fazer rapidamente uma soma onde haja o noves fora DESO.

*Jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências

Bem, vamos ser sucintos, mas elencando os pontos de discórdia claramente! A ‘tragédia’ que seria a DESO, o próprio Luiz traz logo no início de seu texto: baixo investimento? Culpa do governo, já que a empresa é superavitária! Modelo desastroso de gestão? Mais uma culpa do governo, que não é capaz de modernizar a DESO! Ingerências políticas e corporativas? Também culpa do governo, que não é capaz de tirar os políticos de dentro da DESO e nem de impedir que interesses corporativos, internos e externos, influenciem no funcionamento da DESO!

“Ah!, AnderSonsBlog, a culpa de tudo então é de Fábio?”. Não, de tudo, não! Afinal os erros na DESO se acumulam há décadas. Mas o erro do governador Fábio Mitidieri (PSD) é não fazer nada para corrigir esses erros e simplesmente querer passar pras mãos da iniciativa privada algo como a distribuição da água e a coleta e tratamento de esgoto, ambas situações essenciais para a vida e para uma vida com saúde, ora pois!

Quanto ao “70% dirão que apoiam a privatização da DESO”, levantado por Luiz Eduardo, nem temos o que discutir, pois o sucateamento da DESO serviu a esse propósito claramente. E ninguém vai apoiar algo que lhe prejudica? Mais uma vez, trata-se de uma decisão governamental, a base de muito trabalho, pra resolver isso, né verdade?

Sobre a resistência à concessão/privatização, Luiz Eduardo observa que ela existirá e que se enfronhará nas eleições vindouras, municipais, além de sustentar que o ex-governador Jackson Barreto, embora não admita, teria errado ao não levar adiante a tal concessão/privatização da DESO.

Percebe, leitor e leitora, como os argumentos de Luiz sempre resvalam na política e na administração estadual? Ou seja: se a política deixasse a DESO e a administração estadual pudesse fazer gestão na empresa, lógico que as coisas tenderiam melhorar. Daí porque a solução da concessão/privatização é uma mera ‘simplificação’, uma literal ‘tirada do próprio da reta’, entende, leitor e leitora?

Aí Luiz lembra passagem histórica quando o ex-prefeito de Aracaju, João Augusto Gama, teria dito que a ENERGIPE (atual Energisa) era “cabide de emprego pra rapariga de deputado”. Ok, poderia até ser. Mas, por essa ótica, a DESO não vem sendo, ao longo dos anos e inclusive atualmente, espaço propício para que a ‘prostituição’ do apoio político sirva para que se nomeie para os seus postos chave, inclusive a presidência, esse ou aquele amiguinho deste ou daquele político?

Diante do quão ineficiente era a ENERGISA e do quão ineficiente é a DESO, ‘as raparigas’, ainda que usadas de forma pejorativa por Gama, segundo Luiz Eduardo Costa, se mostravam muito mais competentes que os amiguinhos dos políticos que se apossaram da DESO e seguem escangalhando a empresa, né verdade?

E mesmo diante de tantas dificuldades enfrentadas pela DESO e, principalmente, pela população, classificar a “DESO inimiga do povo”, como teria feito o ex-prefeito de Poço Redondo, Junior Chagas, segundo Luiz Eduardo em seu primoroso texto, é seguir lavando as mãos do problema.

Sim, porque se a “DESO é inimiga do povo” e se é o governo que gere – ou ao menos que deveria gerir – a DESO, então, como diria Wagner Moura em Tropa de Elite 2, “o inimigo é outro!” Nesse caso, o inimigo do povo é o próprio governo, que não dá um jeito na DESO, caramba!

E nem venham dizer que esse ‘jeito’ se resume a concessão/privatização, pois isso é solução apenas pra quem não quer assumir a responsabilidade de trabalhar e transformar a DESO pra melhor. E é por isso, querido Luiz Eduardo Costa, que, no caso da DESO, CONCORDAMOS EM DISCORDAR!

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1 Comentário

  • Hermon Anchieta

    8 de abril de 2024 - 13:16

    Excelente texto.

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