Sou de Sergipe, sim senhor! Mas não foi fácil, não, viu? Minha mãe, grávida, queria ter um filho sergipano e lagartense. Mas morava em São Paulo desde novinha. Aí que ela decide pelo meu nascimento no torrão em que ela nasceu. E viemos, eu ainda na barriga. Nasci e, quatro meses depois, voltamos, eu já fora da barriga e nesse mundão de Deus, para São Paulo. Meus pais se separaram, depois voltaram e decidiram também voltar para Lagarto. Aí eu era molecote, uns sete aninhos. Depois eles se separaram de novo e, na pré-adolescência, voltamos para São Paulo. Mas quando o “pescoço endureceu”, ali pelos 16, 17 anos, voltei, agora sozinho, pra Lagarto e pra Sergipe. Agora fecho meio século de vida e de paixão por essa terra. Mas, no meio disso tudo aí, tem um episódio emblemático: ao retornar à São Paulo, do alto dos meus doze anos, pré-adolescente cheio de espinhas na cara e lotado de sonhos no coração – as espinhas me deixaram, graças a Deus, mas os sonhos seguem pulsando aqui, graças a Deus também! –, encarei uma nova vida escolar. E já sabia que, na primeira leitura em voz alta, o “bicho pegaria”. O que fazer com o “sutáqui” mais gostoso do mundo? Nada, ora pois! Mas, na primeira frase lida, as risadas e os gritinhos: “é baiano!”, “falou o Bahia” e coisa e tal, já que, ao menos na época, para todo paulista, todo nordestino era resumido a “baiano”, a “Bahia”. Na época não sabia que isso era bulling e era coisa bem feia de se fazer. Então, tomado de uma coragem que não faço ideia de onde veio, altivo e firme, com um “sutáqui” super “carrégadu”, não contei conversa: “ei, aqui não tem aula de geografia, não?”. E a sala emudeceu as vozes, mas todos os olhos se viraram para mim. E eu: “é, porque quem nasce na Bahia é que é baiano. Eu nasci em SERGIPE. Eu sou SERGIPANO!”. Todos em gargalhada, mas agora não mais de sacanagem, de tiração de sarro. Mas, sim, de respeito e alegria por ver que o garoto franzino, cheio de espinhas e sonhos, não ficaria calado, amuado, envergonhado de ser quem era e é! Resultado: até hoje os meus amigos de São Paulo me chamam – e eu acho isso massa demais! – de SERGIPE. E é isso: não apenas sou de, eu também sou SERGIPE, sim senhor!
PS. Em tempo, a hashtag #EPS201 significa Emancipação Política de Sergipe, 201 anos, belê?