O texto a seguir, do amigo Marcelo Mendes, AnderSonsBlog demorou pra publicar. Tanto isso é verdade que um outro amigo, o jornalista Adiberto Sousa, já o publicou (leia AQUI). Mas tá tudo valendo pelo fato de que Marcelo propõe um debate fundamental: afinal, chegar ao ensino público superior e gratuito, caso da nossa amada UFS, é garantia de ir até o final da formação acadêmica pretendida?
Marcelo, inclusive, expõe dados de como a UFS, em seus campi, faz a sua parte diante do que lhe é possível. Mas a pergunta crucial é: dá pra estudar em alto nível quando se sente fome? O artigo disseca o tema e abre debate essencial sobre qual o papel do ensino superior, público e gratuito, quando se depara com situações em que alunos têm capacidade de chegar lá, pelos seus méritos, mas nem sempre têm as condições necessárias, inclusive alimentares, para concluir o curso escolhido. Boa leitura e, claro, uma ótima reflexão sobre um assunto tão delicado.
“Os desafios da Universidade Federal de Sergipe no combate à fome e a evasão acadêmica
Marcelo Alves Mendes*
O acesso à educação superior pública é um desafio para muitos estudantes, particularmente para aqueles em condições socioeconômicas desfavoráveis. Por outro lado, o financiamento das universidades federais, em particular da assistência estudantil, tem afetado, nos últimos tempos, os programas de assistência estudantil, dificultando a permanência dos estudantes de baixa renda no ensino superior, principalmente nas questões que envolvem alimentação, transporte e moradia.
Com isso, sem um planejamento adequado da instituição, os estudantes podem enfrentar dificuldades para concluir seus estudos ou até mesmo desistir da universidade. Assim, além da necessidade de ampliar o financiamento para o fortalecimento das políticas públicas estudantis, é importante promover uma gestão eficiente e transparente a fim de mensurar os impactos desses programas na vida dos estudantes, por meio de ferramentas tecnológicas, de mecanismos de avaliação e monitoramento dos programas de assistência estudantil, redução da evasão, segurança alimentar e nutricional, e melhoria do desempenho acadêmico.
As universidades públicas brasileiras desempenham um papel importante no combate à fome e à extrema pobreza por meio de diversas iniciativas e ações, principalmente com a implantação dos restaurantes universitários em suas instituições.
Embora a responsabilidade primária pela erradicação da fome e da pobreza seja do governo em todas as esferas, a educação é a principal estratégia para alterar a estrutura social das famílias e do povo brasileiro. Evidentemente, o combate à fome é uma tarefa complexa que requer esforços integrados com vários setores da sociedade.
Os Restaurantes Universitários (RESUN) são espaços que fornecem refeições a preços acessíveis aos estudantes, garantindo que eles tenham acesso a alimentação adequada, promovendo a segurança alimentar e nutricional durante o período em que estão na universidade.
Muitos estudantes enfrentam dificuldades financeiras durante a vida acadêmica. E o custo da alimentação pode ser uma barreira significativa para eles. Portanto, a alimentação institucional é importante, pois a falta de acesso a uma alimentação adequada pode afetar negativamente a saúde dos estudantes, sua capacidade de aprendizado e sua permanência na universidade.
A universalização do acesso a alimentação institucional, por meio dos Restaurantes Universitários na Universidade Federal de Sergipe (UFS), tornou-se realidade no pós-pandemia, com a atual gestão da UFS, por entendermos que os desafios seriam ainda maiores diante do quadro de ampliação da pobreza e insegurança alimentar, particularmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Mesmo com os cortes orçamentários das universidades brasileiras e os desafios na manutenção dos serviços essenciais nos últimos anos, a UFS conta com a presença de estrutura de restaurantes no Campus São Cristóvão, Campus Lagarto, Campus Itabaiana, Campus Sertão, Campus Laranjeiras e Campus Aracaju: foram fornecidas 1.302.293 refeições no exercício 2023, correspondendo ao valor global de aproximadamente 19 milhões de reais.
Vale ressaltar que há mais de duas décadas o valor simbólico praticado para pagamento da refeição por parte do aluno corresponde a R$ 1,00 (um Real). Por outro lado, os discentes do Programa Residência Universitário são isentos da taxa do RESUN. Mesmo assim, a UFS está realizando estudo orçamentário com a pretensão de isentar todos os discentes comprovadamente vulneráveis da instituição.
Certamente, a Universidade Federal de Sergipe destaca-se como a principal executora da Política de Segurança Alimentar e Nutricional do Estado de Sergipe, exercendo um papel estratégico na permanência estudantil e na melhoria dos indicadores acadêmicos, elementos importantes para garantir a nota máxima no recredenciamento UFS, Nota 5, que tanto orgulha a comunidade acadêmica e a sociedade sergipana.
Ainda assim, é importante destacar que a existência de Restaurantes Universitários não é suficiente por si só para combater a fome de forma abrangente. Outras medidas e políticas, como programas de assistência estudantil, com os auxílios, bolsas e demais serviços, também são necessários para garantir que os estudantes em situação de vulnerabilidade tenham suas necessidades básicas atendidas.
*é Professor-Doutor responsável pelo Departamento de Geografia do Campus Itabaiana e Pró-Reitor de Assuntos Estudantis”.