Gravada por Cartola em 1976, no álbum Cartola II, Preciso Me Encontrar é poesia e é filosofia. Sim, porque o grande Caetano Veloso, em sua magistral Língua, disse que “está provado que só é possível/filosofar em alemão”, tirou onda e disse, antes dessa frase aí, que “se você tem uma ideia incrível/é melhor fazer uma canção”. Ora, Candeia, o compositor dessa canção um ano antes de Cartola a gravar, não ouviu a música de Caetano – Língua, com Elza Soares fazendo um dueto maravilhoso com o próprio Caetano, foi lançada em 1984 –, pois morreu muito jovem, aos 43 anos, em 1978. Mas Preciso Me Encontrar é filosofia pura. É a busca do autoconhecimento sem essas frescuragens de autoajuda, de coach, de mentoria e essa chatice toda. Preciso Me Encontrar é a busca de si que só pode ser feita por si mesmo – embora uma ajudinha de terapia com psicólogos ajude bastante. E o interessante é que Cartola, alguns anos antes de gravá-la, realmente deu uma ‘sumida’. A razão, segundo quem estudou sua vida, é que ele, doente, quebrado e sem perspectivas na vida, preferiu o isolamento, sendo depois ‘redescoberto’ pelo jornalista Sérgio Porto, outro gênio que assinava Stanislaw Ponte Preta. E enquanto esteve sumido, teve gente que até compôs, na Mangueira, homenagens a ele penando que ele havia morrido! É mole?! Preciso Me Encontrar teve regravações maravilhosas, inclusive uma de Marisa Monte, em seu álbum de estreia, que é pra gente ouvir ajoelhado e rezando pra que Deus siga protegendo e colocando no mundo essa ruma de gente boa da música brasileira da qual Cartola é um dos maiores expoentes! Viva Cartola!