Sobre a precoce partida da professora Angela Melo, sobre a imensa perda que isso representa e sobre o quanto a gente nem precisa concordar para admirar alguém

Corria ali o ano de 16, este jornalista, hoje responsável pelo AnderSonsBlog, estava no antigo Cinform, editor de Política, ainda no tempo do papel, à vera, e ainda naqueles tempos um veículo contestador na sua essência.

E eis que chega uma série de denúncias sobre a falta de transparência nas contas do SINTESE. Ali começava uma série de reportagens intitulada “A Caixa Preta do SINTESE”. Foi um bafafá danado!

Mas ali o jornalismo fazia a sua parte: o SINTESE teve que colocar seus “livros-caixa” a disposição do professorado sergipano – certo que essa “disposição” pressupunha a pessoa, filiada ao sindicato, ter tempo de se debruçar sob a documentação na própria sede do SINTESE, mas já era um avanço e é esse o papel do jornalismo, ontem, hoje e sempre: promover debates públicos que gerem… avanços pra sociedade, ora pois!

E foi ali que este AnderSonsBlog conheceu a professora Angela Melo, nome forte do sindicalismo da Educação sergipana. Lógico que não foi dos encontros mais afáveis, por óbvio!

Mas também não foi um encontro tenso, visto que o que era cobrado nas páginas do Cinform era algo totalmente em conformidade com o que o próprio SINTESE cobrava e cobra das administrações públicas: transparência!

Passado o episódio, após, inclusive, um café da manhã promovido pelo SINTESE, à época capitaneado por Angela, o que poderia ter sido um revés da gestão dela à frente do sindicato acabou por se tornar uma forma dela legitimar ainda mais a sua luta em defesa dos seus sindicalizados.

E tudo aquilo, de alguma forma, acabou contribuindo para que Angela chegasse à Câmara de Vereadores de Aracaju, garantindo espaço de fala para a mulher, para a sindicalista e para a educadora.

Em que pese nem sempre concordar com as posições de Angela, AnderSonBlog nunca escondeu a admiração pelas suas posturas. E já mesmo ali, desde o episódio das reportagens no Cinform, o que restava claro é que Angela defendia bravamente tudo aquilo em que acreditava sem tergiversar, sem minimamente recuar.

E não foi diferente na Câmara, com Angela tendo embates históricos, especialmente na luta contra o que ela classificava de facismo – embora seus adversários tentassem desqualificar essa fala dela, assim como fizeram e fazem com outros tantos que mantém a mesma posição progressista, e isso é inteiramente do jogo.

Acontece que, há três meses, com a sua internação inicialmente voltada para o tratamento de um AVC que, depois, se revelou uma grave pneumonia, a voz de Angela se calou e a Câmara de Aracaju perdeu uma mulher guerreira e contestadora, que não tinha medo do debate e que não se via acuada quando apontavam suas possíveis contradições.

Muito pelo contrário: quando mais contestada, mais Angela crescia. A baixinha se agigantava quando o debate endurecia! E aí está uma magia fantástica da democracia e da garantia de livre opinião: que tem voz e sabe usá-la, acaba por se destacar!

Até porque a verdade é que mesmo quem não compactuava com as ideias dela, seguramente não deixava de admirar sua disposição para defende-las! Prova disso são as tantas homenagens que Angela Melo está recebendo agora, nesse exato momento!

Por fim, no momento em que se solidariza com a família da vereadora pela perda extremamente precoce, a casa aqui faz questão de registrar que a perda de Angela é efetivamente imensa. E assim o é para o sindicalismo, para seus muitos amigos, para seus familiares e, especialmente, para as mulheres.

Sim, porque ver uma mulher combativa, linha de frente, capaz de levantar a voz contra tudo aquilo que ataca as suas convicções, não é apenas um vislumbre da disposição de uma mulher apenas, isoladamente.

É, antes de tudo, um exemplo para que todas as mulheres, independentemente de suas opiniões, entendam que lhes é permitido o direito de se manifestar. E que se, em algum momento, bater o medo, a insegurança, que a história de Angela Melo lhes sirva de exemplo.

Por isso tudo, Angela, descanse em paz! Mas não deixe de emanar energias revigorantes para todas as mulheres que podem, precisam, merecem e devem estar sempre na luta! Sempre e sempre, amém!

 

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