É com o teclado embargado que este AnderSonsBlog lamenta a perda de um artista genial, Jorge Maravilha. É que quando secretariou a Comunicação estanciana, o titular da casa aqui o conheceu e nele reconheceu a resistência artística de uma pessoa que fez da arte a própria vida. E, para conhecer essa história, vale a leitura do texto maravilhoso, sem trocadilho algum, sobre Jorge Maravilha feito pelo jornalista Diogo Oliveira, do Comunicando Sergipe (leia o original AQUI), além de assistir um vídeo da ótima produtora Brunko Films, já que nele é possível conferir a originalidade e a simplicidade de um artista indiarobense de nascença, mas que será pra sempre lembrado como uma referência estanciana pelos séculos e séculos, amém! Salve Jorge!
“Tributo a Jorge Maravilha: A Voz Eterna de Estância
No Dia de Finados, Estância e Sergipe despediram-se de Jorge Maravilha, aos 72 anos, artista inigualável que, com sua voz e presença, exaltou a cultura nordestina e eternizou as alegrias e dores de seu povo. Maravilha, nascido em Indiaroba e radicado em Estância — cidade que adotou como lar e onde seu coração sempre repousou —, sucumbiu a uma batalha contra o câncer no Hospital de Urgências de Sergipe (HUSE). A perda não foi apenas de um cantor, compositor e radialista, mas de um símbolo que representava a alma estanciana, elevando as raízes culturais de Sergipe a um patamar nacional.
Seu velório, realizado no Velatório da OSAF, reuniu amigos, familiares e uma multidão de admiradores que, unidos pela dor da perda, seguiram em cortejo até o Cemitério da Cruz Vermelha na manhã de domingo, 3 de novembro. A última despedida foi mais que um adeus; foi um ato de reverência e gratidão por uma vida dedicada à música e à cultura de Estância, um legado que ele eternizou com sua voz calorosa e composições memoráveis.
Uma Trajetória Singular, Carregada de Amor e de Luta
Jorge Maravilha era mais do que um artista. Dono de uma voz que emocionava, ele era também um contador de histórias, um defensor apaixonado das tradições nordestinas e um guardião das riquezas culturais de Estância. Sua carreira ganhou projeção em festivais como o Festival Sergipano de Música Popular Brasileira, em 1984, e o Canta Nordeste, em 1997, onde apresentou “Não Sei Mentir”, composição de sua autoria. Em cada nota e em cada letra, Maravilha traduziu as vivências do sertão e as nuances de seu povo.
Entre suas conquistas marcantes, destaca-se o Prêmio Banese de Música, onde foi convidado especial na etapa de Estância em 1988. Já no Rio de Janeiro, ele brilhou nos palcos do Teatro Tiradentes, transmitido pela TV Manchete, vencendo com o frevo “Pecado Safado”. Sempre fiel às suas raízes, participou de festivais em capitais como São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, sempre com a música nordestina como estandarte.
Para os estancianos, uma canção marcou gerações: “Samba de Coco”. Composta por Raimunda Andrelina e imortalizada na voz de Maravilha, essa música tornou-se símbolo dos festejos juninos e representa, para muitos, o próprio espírito de Estância. Em cada verso, o artista traduzia a alegria e a força cultural do seu povo, tornando-se ele próprio um embaixador de sua terra. “Samba de Coco” era mais do que uma música; era um grito de pertencimento, uma declaração de amor à cultura estanciana que ele levava aonde fosse, com a naturalidade de quem carregava a cidade dentro de si.
Reconhecimento e Homenagens em Vida
Poucos artistas têm a oportunidade de receber o reconhecimento de seu povo ainda em vida. Jorge Maravilha foi uma dessas raridades. Ao longo de sua trajetória, recebeu homenagens que eternizaram seu valor para a cultura local e o coração dos estancianos. Em 2017, integrou a coletânea (En)Cantos da Terra do Barco de Fogo, com músicas que celebram Estância, e, em 2019, teve sua história contada pela Escola de Samba Acadêmicos do Bem-Viver no enredo “Uma História de Cantos, Versos e Alegria”.
A última homenagem em vida ocorreu no dia 31 de outubro de 2024, quando, na festa do Servidor, o palco recebeu seu nome como uma justa homenagem a quem tanto amava estar entre o povo, levando sua voz e sua arte.
A música de Jorge Maravilha transitava pelo frevo, forró, samba e MPB, explorando ritmos e emoções com a mesma paixão. Em canções como “Aracajuina” e “Sergipe, uma Nação do Forró”, ele exaltava a cultura sergipana com um amor autêntico, dando voz ao povo e às tradições que ele próprio incorporava. A autenticidade de Maravilha estava na forma como fazia música: não era só um cantor, era um amigo, um confidente e uma presença iluminada que fazia da música uma ponte de conexão com seu público.
Mesmo em tempos difíceis, como durante a pandemia, Jorge manteve-se próximo de seu público, lançando uma versão de “Fogo no Ar” para confortar a cidade em um ano sem festas juninas. Ao lado de parceiros como Marcel Veloso, Jorge encontrava na música sua razão de viver e a SECOM era seu refúgio de criatividade e inspiração.
Na manhã de sua despedida, Estância fez jus à grandeza do homem que Jorge Maravilha foi. Familiares, amigos e músicos que dividiram palcos e canções com ele reuniram-se para uma última homenagem. Wilton Santos e Fabinho do Acordeon, emocionados, entoaram “Samba de Coco” e “Fogo no Ar”, transformando o cortejo em um último espetáculo, onde a música e a saudade se misturavam ao som de aplausos.
O cortejo seguiu pelas ruas de Estância em uma procissão de gratidão e respeito, e a cidade decretou três dias de luto oficial para homenagear a sua lenda. Cada passo do cortejo era uma nota de despedida, cada acorde uma memória, e cada lágrima uma prova do impacto duradouro que Jorge deixou em seu povo.
Jorge Maravilha deixa uma marca profunda, um legado que transcende o tempo e perpetua a cultura nordestina em cada nota e cada verso que compôs. Suas músicas serão sempre um presente perpétuo para Estância, uma cidade que, ao longo dos anos, soube acolher o artista como parte de sua própria essência. Para as gerações futuras, Jorge será sempre mais do que um nome, será a voz de um povo, a expressão da alma estanciana e o espírito vivo de uma cidade apaixonada por sua história e sua cultura.
A despedida de Jorge foi mais do que uma perda. Foi o encerramento de um ciclo, um adeus a um amigo e um último show onde o artista, mesmo em sua partida, emocionou e uniu seu povo. Compositor de sonhos e de canções que ainda gostaria de gravar, Jorge Maravilha deixa uma obra intensa, uma verdadeira obra-prima de amor e dedicação à sua terra.
Hoje, ele canta no coração de cada estanciano, nos sons das festas juninas, nas ruas e nos palcos que foram palco de sua vida. Jorge Maravilha não morreu; ele transformou-se em melodia, na memória coletiva, e em um símbolo de tudo o que é belo e eterno na cultura nordestina.
Descanse em paz, Maravilha. Sua voz, agora eterna, continuará a ecoar em cada celebração e em cada lembrança”.