VALE LEITURA – Antônio Samarone, como sempre, constrói belíssima análise sobre Carreata Mirim de Itabaiana e a perpetuação da tradição estradeira itabaianense

Bombeiro, piloto de avião, astronauta, jogador de futebol e, mais recentemente, digital influencer? Afinal, o que as crianças querem ser quando crescer? Se for uma criança de Itabaiana, nadica de nada de nenhuma dessas opções! O menino e a menina itabaianenses querem ser caminhoneiros e caminhoneiras! Lógico que, com o passar dos anos, as ideias podem até mudar, mas como muito bem observa Antônio Samanore no texto a seguir, a priori a ideia é cair na estrada por esse mundão de Deus. E a prova viva disso é a Carreata Mirim, realizada neste ano exatamente neste domingo, 4, em mais um enorme sucesso que marca o ciclo da Festa do Caminhoneiro e da Feira do Caminhão, uma das maiores festas públicas do Nordeste. Boa leitura, porque vale a pena ler, viu?

 

Sonhos de infância.

Antonio Samarone*

Os brinquedos que eu sonhava na infância eram a bola de futebol e o velocípede. Papai Noel ignorou.

Em Itabaiana, os meninos de hoje sonham com um caminhão de brinquedo.

Faz sentido, a cidade cresceu puxada pelos caminhoneiros. Mesmo não sendo mais uma atividade de ponta da economia, ainda é a locomotiva da cidade.

Os caminhoneiros de Itabaiana se tornaram fortes pelo poder da competitividade. Quem tinha as cargas sabia: mandando-as pelos caminhoneiros de Itabaiana a mercadoria chegava no prazo. E se a carga fosse de perecíveis, até antes.

Se pagou um preço elevado. Muitos perderam a vida. A eficiência era obra dos “arrebites”, substâncias estimulantes, com efeitos colaterais desagradáveis. Tomados a torto e a direito.

Mas foi assim.

Os caminhões puxaram a economia e a vida em Itabaiana. Formou-se uma cultura e uma ideologia.

Os meninos de Itabaiana querem ser caminhoneiros. Não querem ser padres, soldados, artistas, médicos ou políticos. Querem as estradas. Na infância, Eu queria ser jogador de futebol. No bicampeonato do Brasil (1962), eu tinha 8 anos. 

Os meninos de Itabaiana inventaram uma carreata de caminhõezinhos de brinquedo.

No domingo, dia 04, teremos mais uma dessas carreatas, puxadas por meninos e meninas. São mais de 5 mil. Não sei quem teve a ideia de fazer a primeira, em 2009. Só parou nos dois anos de Pandemia. Voltou bem mais forte.

Essa carreata não é uma brincadeira, é um sonho e uma saudade. São filhos e netos homenageando os que tombaram e os que continuam vivos. São carrinhos com as fotos e os nomes dos que morreram. E foram muitos.

São crianças homenageando os pais, avós, tios, primos e amigos, que vivem ou viveram nas estradas da vida.

Quem lidera essa carreata única e original é Luzia de Pote de Lorinda, do Pé do Veado, e o seu marido, Tatu de Zé Charuto. Gente com raízes profundas entre os caminhoneiros.

Praticamente, cada família teve uma vítima nas estradas. Eu perdi um cunhado e tenho um irmão na linha de frente.

A vingança dos filhos é continuar a luta dos pais.

É muito forte a ilusão de que as estradas libertam, que é um destino natural de aventureiros. Gente corajosa, que transformou Itabaiana na capital nacional do caminhão.

Sergipe ser destaque nacional em qualquer coisa é raro. E ser destaque em um setor importante da economia, não é pouca coisa.

O caminhoneiro é um destemido! Os riscos são enormes!

*médico sanitarista e secretário de Cultural de Itabaiana.

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1 Comentário

  • José Anselmo Seixas

    7 de junho de 2023 - 16:35

    Parabéns Anderson pelo texto, população itabaianense merece todo esse carinho esperamos que essa tradição seja vista como exemplo para essa nova geração.

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