O jornalista Rian Santos é figura frequente aqui no VALE LEITURA. E mais esse petardo textual dele, publicado originalmente no Jornal do Dia (leia AQUI), ocupa esse espaço por uma questão bem pragmática: este AnderSonsBlog avalia que 25 deve ser vivido com muito mais poesia, lida e vivida, uma vez que os tempos encerrados em 24, com cartesianismos e algoritmos em alta, deu quase que invariavelmente em merda – duas guerras, Rússia x Ucrânia e Israel x Palestinos, bastam pra comprovar o tamanho da fossa aberta sob nossos narizes, né não? Assim, leia e deleite-se, poetize-se e vamos encarar o fato de que 25 é aqui, é agora e do que fizermos a partir de então é que poderemos celebrar ou lamentar mais adiante. Boa leitura é um ótimo ano novo!
“Dia primeiro
Rian Santos*
Numa crônica quase piegas, o poeta Carlos Drummond de Andrade adverte os inocentes de olhos espetados no calendário: o espírito do Ano Novo não vingará por força de moto contínuo, compelido por votos de felicidade e foguetório. No escuro insondável, em sono profundo, o Ano Novo dorme e sonha, como um menino.
Tomo liberdades com a crônica de Drummond, eu sei. Neste intervalo, entre o fim e o começo de um novo ano, quando tudo estala, ainda broto, a esperança renovada dispensa qualquer fundamento. O marco temporal sugere uma estrada aberta, oportunidades, recomeços possíveis. Todo homem, toda mulher, desperta nestes primeiros dias do ano como quem parte em cruzeiro por mares nunca dantes navegados, uma aventura, todos renascidos.
Nos primeiros dias de um ano novo todos viram crianças, sem qualquer passado a lhes pesar sobre os ombros. Amores ressequidos, dívidas antigas, boletos vencidos, as frustrações derivadas da experiência acumulada ao longo da vida, os calos nas palmas da mão do trabalhador acostumado ao cabo da enxada, erros e acertos repousam no éter.
O dia primeiro não tem passado, não tem mácula de memória, igual à flecha de Oxóssi: uma ideia concebida sob sol ainda não nascido, uma aurora que desde já inflama o horizonte no futuro.
*é Jornalista”.