Claro que, como o próprio jornalista Rian Santos, no Jornal do Dia, destacou, a fala do presidente Lula dirigida ao seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que ele deveria “parar de ler” e ir negociar com o Congresso Nacional (leia AQUI) tratou-se de uma “pilhéria”. Mas é importante ressaltar: a leitura não é uma ocupação qualquer. Na verdade, ler é um dos fundamentos da construção humana que nos ajuda a fazer um mundo melhor para todos! Duvida? Então, aproveite e tenha uma ótima leitura de mais um texto maravilhoso do grande Rian. Sem mais!
“Em dia Útil
Rian Santos*
Ler menos, trabalhar mais. O conselho do presidente Lula para Fernando Haddad não passou de pilhéria, claro.
Ainda assim, ofendeu os meus brios de leitor convicto.
Cá entre nós, eu não trabalho pouco.
Não é raro, contudo, um transeunte sem rumo, perdido nos caminhos de barro da zona rural onde resido, me surpreender com um livro aberto, à sombra de uma árvore.
O mato em volta, ararinhas e saguis, não contam os dias em folha de calendário.
Inspirado por eles, leio os poemas de Yeats em pleno dia útil.
Vira e mexe, um invejoso sem tempo a perder no fundo dos bolsos bem forrados tenta nos convencer do acerto de dicotomias flagrantemente mentirosas.
O ex-presidente Bolsonaro gostava de alertar, com o ar paternalista de um aproveitador rematado, sobre uma escolha supostamente difícil: os trabalhadores teriam de optar entre direitos consagrados ou oportunidades de emprego.
Agora, Lula recorre a um confronto descabido entre ócio e produtividade. Esconjuro! Bolsonaro era um ignorante, um homem chucro! Lula, ao contrário, desfrutou da amizade de Domenico De Masi.
Quando o presidente esteve preso, em Curitiba, uma arbitrariedade, o sociólogo italiano fez questão de o visitar no cárcere.
De Masi, o leitor desta página certamente já ligou o nome à pessoa, foi justamente quem primeiro atentou para as virtudes do tempo jogado fora em proveito da criatividade.
A sua contribuição para o desenvolvimento humano foi tamanha, a ponto de o próprio Lula lamentar a sua morte.
“Intelectual incansável e homem público apaixonado, sempre foi um defensor das causas sociais, do avanço das conquistas humanas e de um mundo mais justo e solidário”, escreveu o presidente, naquele dia triste.
Estou com Lula e não abro. Não o padeiro sem tato. Mas o amigo de escritores e dos livros. Sei feliz quem abre um volume ao acaso, para o próprio deleite, como se diz de seu ministro da economia.
As máquinas, os algoritmos, os cérebros eletrônicos, estes sim, podem trabalhar sem parar.
*é Jornalista.”