VALE LEITURA: Rian Santos nos leva a uma jornada incrível durante sua visita aos ensaios da quadrilha junina Peneirou Xerém

Escrever é um dom danado de bom. Mais do que isso, escrever com o poder de transferir a outrem o que se sente, se vê, ouve e vive é uma dádiva, um presente divino para quem lê. E é assim que se sucede com os textos do jornalista Rian Santos. Quer uma prova viva? Mergulhe, leitor e leitora, de cabeça nessa passagem do autor num dos ensaios da quadrilha junina Peneirou Xerém. Como ele mesmo diz, resulta em “puro deleite” pra todo mundo, mas, para AndersonsBlog, ainda mais: é que este aqui, com seus “dois pés esquerdos”, já se aventurou nessas dançantes manifestações culturais lá atrás, bem lá atrás, na inesquecível quadrilha Xamego Bom, de Lagarto. Ê saudade, que por ter nome de mulher, nunca deixa de parir sempre mais e mais lembranças danadas de boas! Boa leitura!

A experiência real da Cultura*

Rian Santos

riansantos@jornaldodiase.com.br

Alheio à devoção religiosa, caio sobre os joelhos ante a mais breve manifestação do amor. Falo de homem e mulher – o enlace escandaloso de Gabriela e Nacib, por exemplo. Refiro-me, sobretudo, ao empenho capaz de revelar por força de simples gesto uma beleza extraordinária.

A mais modesta das quadrilhas juninas realiza o mesmo feito sublime atribuído ao Ballet de Bolshoi. Vi com os meus próprios olhos, mais uma vez, na quadra de uma escola estadual, último fim de semana. Sem nenhum adereço próprio do evento em si, uma menina rodava uma saia imaginária no ar. O sorriso sincero estampado em seu rosto, a satisfação evidente no balanço do corpo, evocavam a festa inteira: a música, a cor, o burburinho, o brilho.

O convite do ator Gustavo Floriano, a quem cabe a direção artística da quadrilha junina Peneirou Xerém, redundou em puro deleite. Os dezesseis casais que encarnam a coreografia do marcador Elói Filho ainda se esforçam para colocar cada movimento na ponta das priquitinhas de couro, a fim de alcançar a harmonia indispensável ao espetáculo. O gosto com que eles se entregam à tarefa, contudo, transborda, contagia. Gabi Etinger, intimada a cuidar da identidade visual do arrasta pé, já me deixou avisado: ano que vem, no próximo São João, formaremos casal da matutos.

Segundo se diz, Deus não dá asa a cobra. Com dois pés esquerdos, admito o receio derivado do entusiasmo declarado de minha companheira. Não sei se terei a disposição necessária para encarar ensaios com a duração de dias inteiros, como fazem os integrantes da Peneirou Xerém. Acima de todas as dúvidas, no entanto, resta a alegria sem reservas de testemunhar a maravilha tomando forma. A julgar pela entrega de cada um, a quadrilha já conquistou o maior de todos os prêmios: a felicidade da convivência, a experiência real da Cultura.

A quadrilha junina Peneirou Xerém participa do Concurso Arrasta Pé, promovido pela TV Atalaia, dia 05 de junho, no Aracaju Park Shopping (Bairro Industrial) – O primeiro em uma série de eventos da extensa agenda a ser cumprida nos quatro cantos de Sergipe e ainda mais longe.

*Texto publicado na versão impressa do Jornal do Dia.”

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