AnderSonsBlog confessa que já caiu na armadilha da audiência a qualquer preço e também na tentativa de se ‘fazer justiça’ com as próprias mãos, palavras, áudios ou vídeos. Enquanto Jornalista, essa tentação é real e cotidiana.
Mas foi enquanto pessoa, vivendo um drama familiar gravíssimo há 18 anos, que a casa aqui aprendeu na dor uma lição absurdamente necessária: não vale tudo pela audiência e nem é condizente com a atividade tentar se ‘fazer justiça’ antes do devido processo legal.
Pra ser breve: naquele momento em que vivia o que viveu, AnderSonsBlog vê a sua frente um colega de imprensa que vinha esmiuçar o imenso sofrimento daquele instante.
Pode ter sido pelo olhar que recebeu, pode ter sido também por uma súbita consciência do que ali ocorria, o fato é que o colega – até hoje muito querido – recuou seu microfone e respeitou a dor alheia de uma família em frangalhos naquela situação.
Passado o tempo, recuperado da dor imediata, mas jamais esquecido do quanto doeu, o profissional aqui passa a respeitar situações em que o revirar dos ‘destroços’, o tentar ‘justiçar’ o ocorrido, em que expor nomes e detalhes sórdidos de um crime ou de uma tragédia só fazem aumentar o sofrimento de quem, muitas vezes em estado de choque, está no olho daquele furacão.
E passou a se ater aos fatos básicos e necessários a serem levados ao conhecimento público. Essa foi uma decisão pessoal, mas baseada no quanto qualquer pessoa pode ter amenizado ou amplificado o seu sofrimento em situações limite.
E tudo isso veio à cabeça do Jornalista aqui durante a coletiva de imprensa promovida pela OAB/SE para esclarecer todos os detalhes das investigações sobre o crime sexual denunciado por uma advogada contra um colega de profissão.
Mas os bastidores é que incomodaram pra valer a casa aqui. Vazamento de informações sobre o inquérito – algo que também precisa ser investigado, viu? –, com o assunto chegando até as filhas da denunciante em plena escola, via zap-zap – nossa, que coisa cruel! –, imprensa fazendo algo que deveria condenar, que é justamente julgar por antecipação, tentativa clara de se ‘criminalizar’ a condução do caso no âmbito da OAB/SE justamente por esta ter tomado os cuidados necessários para não expor desnecessariamente quem quer que seja e, principalmente a vítima, de forma evitar o sofrimento duplo a que ela acabou exposta… enfim, um festival de grosserias, de baixarias e ‘vale tudo’ pela audiência.
Dito isto, vamos aos fatos esclarecidos: a conversa informal com a denunciante aconteceu, ela foi instruída de que precisava da documentação comprobatória para dar entrada na denúncia, sendo que assim foi feito e, no dia 16 de fevereiro, o trâmite se inicia.
Ato contínuo, no dia 20, segunda passada, a OAB/SE determina afastamento do conselheiro denunciado, bem como dá respostas internas à questão da advogada que estava na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e que foi contratada pelo acusado, sendo imediatamente retirada da comissão e substituída.
Além disso tudo, o presidente da OAB/SE, Danniel Costa, bem como sua vice, seja por relações profissionais, seja por relações pessoais, declararam-se suspeitos para conduzir o devido processo interno quanto ao caso e este está sob a responsabilidade do Secretário-Geral da OAB/SE, Nilton Lacerda.
Ademais já está esclarecido que o advogado em questão, sendo condenado na Justiça, deverá, sim, ser excluído dos quadros advocatícios, o que é algo mais do que natural.
O que não foi natural, o que não deve ser aceito como normal, é a pressão pela exposição das partes e, principalmente, da vítima, de forma a fazer uma espécie de ‘justiça antecipada’. Como bem disse a jornalista Gleice Queiroz no início dessa barbaridade toda, lógico que se fica ao lado da mulher em casos desse tipo. Mas é justamente por isso que não se deve jogar holofotes em algo que, graças a Deus e as pessoas de boa cabeça nesse mundo, está sendo investigado de forma séria e severa, ora pois!
Por fim, mas não menos importante e não menos doloroso, é preciso lembrar que este ano temos eleições na OAB/SE. E mesmo sem querer acreditar em ‘teorias da conspiração’, será que tanto escarcéu não traria, no fundo, no fundo, interesses nada republicanos em relação a essa mesma eleição, tentando macular a imagem da OAB/SE e de suas lutas, inclusive de combate a violência contra a mulher, com inconfessáveis interesses eleitoreiros?
Lógico que isso não partiria das partes envolvidas, muito menos da parte que foi vítima desse crime e que busca Justiça da forma como tem que ser, com inquérito feito para posterior oferta ao Judiciário para, finalmente, o devido processo legal e o julgamento ocorrerem. Mas quando algo tão triste e pesaroso se torna palco para um circo midiático, já não dá pra duvidar de nada!
Assim, esclarecidos os fatos e as medidas tomadas, agora a imprensa que faça a sua parte: marque o passo a passo do andamento do processo como um todo e, após o julgamento, aí sim leve tudo à população, até como forma de se coibir a reiteração desse tipo de crime que tanto envergonha quem tem vergonha na cara. Sem mais!
3 Comentários
Ribeiro Filho
Juíza sergipana denunciou que juízes faziam teste do sofá com estagiárias do Direito. A denúncia causa, polêmica e a juíza recebeu várias críticas, vindas principalmente de outras mulheres juízas.
DECLARAÇÃO POLÊMICA
Juíza de Sergipe diz que colegas do Judiciário fazem “teste do sofá”
Redação ConJur
24 de agosto de 2019, 13h01
Judiciário
A juíza de Sergipe Patrícia Cunha Paz Barreto de Carvalho deu uma declaração polêmica durante um congresso que discutia o papel da mulher no Judiciário. Ela disse que muitas advogadas e servidoras tiveram que fazer “teste do sofá”.
Nota da ABRACRIM-SE corrije vacilo do presidente da OAB/SE, Danniel Costa, sobre vazamento de inquérito do caso de violência sexual, algo que fere de morte as prerrogativas advocatícias. Entenda - Jornalismo | Andersonsblog
[…] Pra não seguir nessa mesma tônica de insistir na exposição cruel, AnderSonsBlog vai só trazer uma lembrança ao seu leitor e a sua leitora: em 23 de fevereiro, no primeiro texto que tratou sobre o assunto, já cobrávamos uma posição firme da OAB/SE em relação ao vazamento do inquérito (leia AQUI). […]
Nota da ABRACRIM-SE corrige vacilo do presidente da OAB/SE, Danniel Costa, sobre vazamento de inquérito do caso de violência sexual, algo que fere de morte as prerrogativas advocatícias. Entenda - Jornalismo | Andersonsblog
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