Antônio Samarone é presença constante aqui em AndersonsBlog. Afora sua participação nos principais movimentos políticos sergipanos nas últimas quatro décadas, Samarone escreve bem demais e merece sempre ser lido, quer se concorde ou não com o seu ponto de vista. No caso do texto a seguir, AndersonsBlog confessa: concorda em gênero, número e grau. Boa leitura!
“A política está confusa em Sergipe.
Antonio Samarone*
Por que os candidatos da situação (Mitidieri e Rogerio), ainda não decolaram? Por que, até agora, nem a máquina viabilizou o primeiro, nem Lula viabilizou o segundo?
A pergunta mais difícil: por que Valmir de Francisquinho, um “outsider”, sozinho, pouco conhecido fora do Agreste, enfrentando dificuldades reais e inventadas pelo Poder, continua bem à frente nas pesquisas eleitorais?
A resposta ainda não existe. Existem pistas…
A sociedade cansou da política, na forma como funciona em Sergipe. Essa rejeição é desorganizada e se manifesta como indignação individual, através das redes sociais.
Em Sergipe, o quadro é agravado pela permanência de um mesmo grupo no Governo há 16 anos. Todos estão no Governo. O poder público voltou-se exclusivamente para beneficiar os ocupantes da máquina, para eles mesmos.
A oposição em Sergipe foi residual, simbólica, sem instrumentos de pressão. A Assembleia Legislativa é um poder decorativo, uma casa do amém. Nada de importante acontece, além de ratearem entre si os recursos públicos.
Se todos estão no Governo, para que pressa? Eles vão empurrando com a barriga. A pandemia virou uma justificativa para a paralisia do Governo. Calma gente, estamos numa pandemia. Belivaldo descansou, foi beneficiado pela crise sanitária.
A novidade foi o crescimento da militância digital. O único espaço. Só que as redes sociais denunciam escândalos sucessivos, que se esgotam rapidamente, sem maiores consequências. As redes sociais não organizam a luta política.
Os que estão de cima, como se dizia, ficaram cegos na fartura. Tudo é muito fácil: rendimentos generosos, acesso livre ao que restou dos serviços públicos. O cidadão comum, sem padrinhos, sofre em busca do básico.
Esse imenso grupo de políticos, no poder há 16 anos, pensou: na hora da eleição a gente distribui migalhas, contrata uma máquina de propaganda, informa que dessa vez será a verdadeira mudança, que vão resolver, e o eleitorado embarca na viagem.
Eles não estão entendendo, por que até agora não deu certo.
Como, se os prefeitos, os deputados, os vereadores, os comissionados, a imprensa marrom, os líderes prestigiados, porque se até nós mesmos estamos do nosso lado, a nossa família, um magote de puxa-saco, mesmo assim, o eleitorado ainda está descontente?
Aí entra Valmir de Francisquinho. O povo acredita que Valmir, além de bom gestor, não faz parte dessa panela e nem vai criar outra panela. É uma forma de vingança do eleitorado.
Se diz até que ele é inelegível, que o voto popular foi cassado. Mesmo assim, o povo tem as suas rebeldias e quer eleger o inelegível.
O que vai acontecer até 02 de outubro? Não sei…
*é médico sanitarista.“