Dia do Jornalista, Sábado de Aleluia, a morte de Carlos Pinna e a necessária reflexão sobre o papel de informar numa sociedade em que todos têm esse direito

Essa coisa de celebrar datas alusivas a profissões é algo necessário pra que se faça referência a importância de cada atividade. Mas não deixa de ser um forma no mínimo preguiçosa de se valorar qualquer que seja a atividade.

Peguemos como exemplo o Dia do Jornalista, celebrado ontem, 7 de abril. Mas, pera lá, em tempos internéticos, de tanta circulação de informações, até para o bem destas, não seriam todos os dias Dias dos Jornalistas?

E olha que quem acompanha este AnderSonsBlog sabe bem que isso não se trata de maneira nenhuma de reservar mercado – vide a forma com que a casa aqui trata, por exemplo, a questão imobiliária sergipana. Na verdade, quanto mais liberdade, melhor.

Só que a liberdade vem, invariavelmente, acompanhada do aumento das responsabilidades. E isso é a lógica e é algo também muito bom. Ora, se eu falo o que quero, tenho que assumir as responsabilidades pelo que tenho dito.

Não tem outra forma de encarar a produção de conteúdo informativo, seja factual, seja analítico, do que amarrando o que se diz na orelha do dono da palavra lançada.

Dito isso, AnderSonsBlog também acrescenta: nada contra quem, independente da formação, se predispõe a informar ou a analisar os fatos.

Seria um contrassenso em tempos de tantos avanços tecnológicos, em tempos de inteligência artifical criando textos pras mais variadas áreas – inclusive a jornalística, viu? -, criando vídeos e até músicas, tentar impedir que alguém usasse de seu livre arbítrio pra opinar ou pra relatar algo.

Só que aí é que vem a questão da responsabilização pelo que se diz. E, pra já avisar, o exemplo que será dado a seguir é não uma forma de punir ninguém, afinal não se trata de caça as bruxas, mas de alertar para o quão perigoso é sair por aí dizendo o que quiser sem levar em consideração o que mais importa: a vida humana!

Pois bem, nesta semana Sergipe perdeu Carlos Pinna, que vinha lutando por sua saúde há algum tempo, como se pode saber somente após sua morte.

Homem de vasta cultura, um dos membro da Academia Sergipana de Letras, de uma vida pública extensa e irretocável, Pinna fazia parte do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe (TCE/SE) desde 1986.

E, aos 74 anos, estava em vias de se aposentar. Infelizmente, e com nossos profundos sentimentos à família, não deu tempo.

Só que desde o ano passado, por maledicência mesmo, alguns “sabe-tudo” da Internet andaram vendendo que Pinna anteciparia a aposentadoria por questões políticas, abrindo espaço pra que o novo governador – então ainda nem eleito – pudesse usar a vaga no TCE/SE ao seu bel prazer.

Como já dito, aqui não é tribunal e AnderSonsBlog não é, ainda, advogado pra sair acusando A nem B. Quem quiser saber quem são os “sabe-tudo” da Internet, que busque nas redes sociais ou apele pro Google.

Mas o que este site aqui quer levantar é questão da falta de responsabilização pra quem fala o que quer, sendo jornalista ou não.

No caso de Pinna, essa fofoca começa com um “não-jornalista”, pra usar um termo simpático. Mas contaminou até gente muito boa que, nesse caso de boa fé, embarcou na avaliação de que Carlos Pinna se afastaria por uma decisão política.

E até recentemente, quando o governador Fábio Mitidieri (PSD) nomeou Carlos Pinna Júnior, obviamente o filho, como Procurador Geral do Estado, aquela voz maledicente tentou, novamente, misturar alhos com bugalhos e confundir a opinião pública.

Pela sua decência, Carlos Pinna não se prestaria a um papel desses. Mas, ainda que não se possa garantir, também pela sua decência, pode ter optado por não antecipar sua aposentadoria justamente pra não dar corda aos detratores de Internet que, seguramente, iriam pra cima com base nas ilações dos tais “sabe-tudo”.

E, com tudo isso se passando no território “livre” da Internet, Pinna não antecipou a aposentadoria e veio a falecer antes da data objetiva para tal, quando completasse 75 anos.

Como se sabe, os desígnios de Deus são só d’Ele, nós nos limitemos a seguí-los. Mas cabe avaliar: se não fossem as maledicências e as fofocas nas redes, será que Pinna não poderia ter se aposentado tranquilamente, se dedicado plenamente aos cuidados com sua saúde e, quem sabe, prolongado a sua presença e convivência com os seus?

Essa pergunta não tem resposta, obviamente. Mas a nossa proposta de debate tem seu fundamento objetivo: antes de lançar sobre alguém alguma informação ou avaliação de comportamento, sendo jornalista ou não, aprofunde a busca da informação, ouça o máximo de pessoas possível, ouça o outro lado, abra espaço pro contraditório e nunca, mas nunca mesmo, entre em questões pessoais que possam alterar o curso normal da vida de ninguém.

Com a vida não se brinca. E quem brinca com a vida alheia só pode ser considerado criminoso, não é verdade?

Que esta Aleluia nos ajude a refletir. Mas que reflitamos, especialmente antes de publicar algo sobre alguém nessa terra de ninguém que vem se tornando a Internet, sempre, todos os dias, em todas as nossas postagens, pelos séculos e séculos, Amém!

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1 Comentário

  • Ribeiro Filho

    8 de abril de 2023 - 20:06

    Belo texto sobre a complicada profissão do jornalista no tempo atual, no qual todo cidadão produz e emite notícia nas redes sociais, mesmo correndo o grave risco de errar e ter que ser responsabilizado por atingir outras pessoas é causar danos a sua imagem perante a sociedade. O experiente jornalista Anderson faz uma análise coerente e lúcida, sobre incautos que se arvoram em emitir conceitos a respeito de autoridades constituídas, no caso em questão, sobre negociações envolvendo o Conselheiro Carlos Pina. Parabéns pela sua escrita resgatando o papel do jornalista na sociedade, e aa história de Carlos Pina.

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