GRANDES ENTREVISTAS – José Carlos Machado elenca 5 questões que, em sua apurada análise, precisam ser debatidas e esmiuçadas em nome de Sergipe e do futuro

Toda vez que o empresário itabaianense José Carlos Machado se manifesta sobre assuntos de grande monta, a verdade é que todo mundo deveria prestar atenção no que ele diz.

Ex-deputado estadual e federal, ele foi também vice-governador e vice-prefeito de Aracaju. Mas não são esses cargos e nem os demais que ele ocupou que dão a Machado esse, digamos, poder de falar coisas que precisam ser ouvidas e debatidas, nada disso!

Na verdade, Machado e sua indiscutível relevância são fruto de dois fatores bem tangíveis: seu interesse por Sergipe e sua disposição para os estudos. O primeiro tem a ver com seu amor pela terra que o viu nascer e tão bem o tratou nesses longos anos de vida. E o segundo fator tem muito a ver com aquela obstinação itabaianense de não se conformar em fazer nada pela metade.

No mais, como se trata de um homem público sob os holofotes do poder e da mídia há quase 50 anos, AnderSonsBlog vai economizar nos detalhamentos – e quem quiser saber mais sobre Machado é só pesquisar na internet. Aqui, nessa seção batizada de GRANDES ENTREVISTAS, a ideia é focar na extração do melhor dentre os melhores momentos de um papo fenomenal que AnderSonsBlog teve com José Carlos Machado há pouco mais de uma semana.

E como o próprio Machado não quis que a conversa fosse gravada – “confio na sua perspicácia”, foi o que ele disse –, a maneira de compartilhar essa conversa com você, leitor e leitora, foi escolhendo 5 TEMAS por demais importantes e tentar reproduzir, de forma resumida, toda a riqueza da leitura de cenários e de projeções para o futuro feitas por Machado. Lógico que não vai ser possível ser ipsi literis em tudo. Mas AnderSonsBlog vai confiar na confiança aqui depositada pelo interlocutor e mandar ver! Simbora?

João Alves, Mario Andreazza e José Carlos Machado, no final dos anos 1970. João, por sinal, sempre foi a referência pública de Machado

O TEMA 1 é um primor analítico que, possivelmente, é também o que tem o teor mais político da conversa toda. Afinal, Machado, como está o atual quadro político sergipano e no que isso pode influenciar na condução das políticas públicas do governo de Fábio Mitidieri (PSD)? “É simples: os astros estão alinhados e não se sabe quando isso pode voltar a acontecer. Veja: nós temos um governador que votou no presidente (Lula), temos um ministro (Márcio Macedo) que despacha numa sala ao lado do presidente. Temos uma bancada de parlamentares federais que, se não é 100% do governador, pois tem as exceções do PT (Rogério Carvalho e João Daniel), também não tem ninguém contra radicalmente. E esse é o tipo de oportunidade que Sergipe não pode perder!”.

Então poderíamos comparar esse momento com aquele em que João Alves elegeu seu sucessor, Valadares, em 1986 e se tornou ministro do Interior?

“Não. É muito diferente! João e Valadares se estranharam logo no início do governo de Valadares. E quando João voltou, em 1990, nem precisou assumir para que brigassem de novo. São momentos distintos cuja a similaridade é o fato de termos tido lá e também termos agora um ministro próximo ao presidente…

…e outra grande diferença é que a bancada federal lá em 1986 não tinha o poder que a de hoje tem. São cerca de R$ 800 milhões por ano que o governo federal tem que honrar e que têm a destinação definida pelos deputados federais e pelos senadores. Aí cabe ao governador chamar a bancada e convencer a todos de quais têm que ser as prioridades”.

E, na avaliação de Machado, seria possível elencar uma “prioridade das prioridades”? “Sem dúvida é o Canal de Xingó. Até porque, como o projeto está posto, Sergipe vai depender demais da Bahia para que a obra saia do papel. E será que a Bahia tem interesse num projeto que beneficiará mais aos sergipanos do que aos baianos? O ideal seria se a captação da água fosse em Xingó mesmo, como defendia João Alves. Mas, pelo projeto, será em Paulo Afonso e por isso teremos tanta dependência do interesse dos baianos”.

Reinaldo Moura, Marcelo Déda e Machado, na Alese: relação com Déda foi a prova de que os diferentes, quando civilizdos, é possível sempre!

E por conta do tão sonhado Canal de Xingó é que entramos no TEMA 2 da conversa: segurança hídrica. “Tenho lido muito, me aprofundado em estudos e tenho segurança em afirmar que a situação de Sergipe, em termos de abastecimento de água, é preocupante porque…

…se não agirmos agora, daqui a 10, 15 anos no máximo, vai faltar água em regiões importantíssimas do estado. Itabaiana e todo o Agreste, além Lagarto e a região Centro Sul. Não se trata de pessimismo e nem de alarmismo. A questão é que não terá de onde tirar água para abastecer essas populações que não param de crescer”.

E seria o Canal de Xingó que resolveria essa questão? “Não, o canal tem outra função, é para irrigação e desenvolvimento agrícola. Mas é claro que se trouxermos a água do rio São Francisco para irrigação, a logística estará implantada para que possamos trazer a água para abastecimento. É tudo questão de se trabalhar firme. Lembro que no primeiro mandato de João Alves tivemos um momento em que havia 2 mil quilômetros de adutoras em construção no estado. Era mais do que em todo o Nordeste. Levamos água do São Francisco para Pedra Mole, que todos diziam ser impossível. E tudo sob o comando da Deso. Hoje o desafio é levar a água do São Francisco até a cidade de Tobias Barreto. Se deu certo no passado, tem que dar certo agora também”

Albano Franco, Luciano Barreto e Machado: a vice-governadoria de Machado ocorreu na priemira gestão de Albano.

E por falar em coisas que deram certo no passado, porque é que a duplicação da BR 101, que vem bem lá do passado também, não terminou até hoje, Machado? “É verdade, vem bem lá do passado…

…Eu era vice-governador de Albano Franco quando essa obra começou, o presidente era Fernando Henrique. E realmente um trecho, entre Aracaju e Estância, saiu do papel e está aí feita. Mas o trecho norte, de Aracaju a Propriá, e o trecho sul, que nem projeto tem ainda, custarão uma fábula…

Aí o governo federal coloca, por ano, R$ 70 milhões, R$ 80 milhões no Dnit  aqui em Sergipe. Não dá pra nada. E agora falam da duplicação da BR 235. Aí a gente tem que falar em R$ 500 milhões por ano para, depois de 3 anos, chegarmos a R$ 1,5 bilhão, que deve ser o custo total pra finalizar a duplicação da BR 101 e duplicar pelo menos o trecho entre Itabaiana e Aracaju da BR 235”.

Antes de finalizar esse que é o nosso TEMA 3, vale lembrar que essa entrevista aconteceu antes do ministro dos Transportes, Renan Filho, dar entrevistas assegurando que o governo Lula fará um aporte de R$ 300 milhões para que o Dnit em Sergipe possa tocar as duas duplicações. Parece até que ouviram Machado, né verdade, leitor e leitora?

Machado, Maria do Carmo e ACM Neto: primeiro o PFL, depois o DEM e, hoje, sem partido, Machado sempre se destacou pela fidelidade aos líderes e partidos que acompanhou.

Para o nosso TEMA 4, algo bem contemporâneo. Tendo sido vice-prefeito na última gestão de João Alves como prefeito da capital, Machado tem plena ciência dos problemas de Aracaju. Mas vamos focar em um que está na ordem do dia: a cidade que alaga e gera dificuldades para a população no período das chuvas.

“Nos dois primeiros anos de João como prefeito foram feitos os estudos para a construção da Perimetral Oeste, uma avenida que sairia de Socorro, passava por Aracaju e ia até os limites do município de Itaporanga. E aí estava incluído o projeto de macrodrenagem para toda Zona de Expansão, que é a área mais crítica e suscetível a esses alagamentos. Mas depois, com a doença dele, tudo ficou mais difícil…

…Mas o fato é que existiam lagoas naturais que recebiam essas águas na Zona de Expansão. E as construções foram aterrando elas. Aí, quando chove, a água não tem para onde ir. O problema não é a chuva. Na verdade, a chuva serve para mostrar aonde está o problema…

…tem que se construir a macro e micro drenagem em toda a Zona de Expansão. E se não fizer isso, aonde estão colocando o asfalto hoje, nas próximas chuvas, com a água sem ter para onde ir, o asfalto cederá novamente”.

Pra fechar esse produtiva conversa, vamos propor uma provocação no TEMA 5: existe, na opinião de José Carlos Machado, um discussão que não está sendo devidamente levada a sério ou, pior ainda, quem nem está sendo discutida pelos sergipanos e sergipanas?

“Temos sim e é algo, na minha avaliação, muito sério. Já se falou na exploração da carnalita em nosso subsolo, sendo que seria com uma nova tecnologia. Mas, de prático e efetivo, temos a exploração há décadas da silvinita, também utilizada para a produção de fertilizantes…

…só que não discutimos o fato de Sergipe ter hoje cerca de 500 quilômetros de túneis a 400, 500 metros de profundidade abaixo do nosso território. Como a silvinita e qualquer outro mineral se esgotam, ninguém fala sobre o que faremos com esses 500 km de túneis quando a mina não for mais explorável. Isso é um passivo ambiental gravíssimo…

…Inclusive participei de um debate certa feita em que uma geóloga não disse que alguns tremores de terra sentidos em Malhador teriam relação com esses túneis, mas ela também não negou veementemente a possibilidade de terem. É algo que temos que discutir e buscar soluções agora, sob pena das próximas gerações serem muito prejudicadas. Em Maceió, diante da exploração do subsolo, um bairro inteiro foi condenado. Vamos esperar isso acontecer aqui antes de buscarmos uma solução?”, finalizou José Carlos Machado em mais uma edição do GRANDES ENTREVISTAS. Até a próxima!

Machado com o saudoso João Alves na última diplomação de ambos: João como prefeito e Machado como vice. Mas não se engane, leitor e leitora: Machado ainda pode voltar à política, o que seria bom para a política, diga-se de passagem.

 

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