João Alves Filho, goste-se ou não, concorde-se ou não com quem ele foi e com o que ele fez, com certeza está no olimpo dos homens públicos de Sergipe. E ele alcançou algo raro pros sergipanos: virou ministro de Estado no governo de José Sarney.
Entre 1987 e 1990, João foi Ministro do Interior. Cargo de peso, ministério com orçamento e, acima de tudo, com capilaridade por ter função clara de intervir na busca por soluções satisfatórias para reduzir desigualdades, combater calamidades e proteger os interesses de diferentes populações.
Tudo isso num país continental como o nosso, combinemos, foi tarefa hercúlea que João tirou de letra até mesmo por focar no macro, deixando pras horas vagas e tão somente nelas as discussões sobre a política paroquiana de Sergipe.
Tanto isso é fato que só deixou o ministério, após ser nomeado, em 1º de março de 1990 quando o então presidente Collor, ao ser empossado, extinguiu o ministério que, nos tempos atuais, equivaleria a um misto de Ministério das Cidades com o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional.
Recuperada essa quadra da história republicana recente do Brasil, voltemos os olhos para a presença de uma figura política de Sergipe, o ex-deputado federal Márcio Macedo (PT), praticamente na antessala do presidente Lula.
Márcio ocupa desde o início da atual gestão lulista a função de secretário-geral da Presidência, posto que lhe confere status de ministro. E, nele, a função primordial, embora não única, é a de articular administrativa e politicamente a Presidência com movimentos sociais e políticos em todo o país.
Massa demais, legal demais ver alguém que surge para a política em Sergipe alcançar esse destaque, né verdade? Lógico que se trata de uma deferência pessoal de Lula para com Márcio, mas não deixa de ser uma oportunidade de vermos alguém da política nossa de cada dia brilhando em Brasília, ora pois!
Pois é, né? Essa sempre foi a expectativa! Mas a realidade, não apenas a atual, deu um chega pra lá na fantasia de que teríamos o nome de Sergipe elevado.
Senão, vejamos: Márcio já foi matéria de análise aqui em AnderSonsBlog por conta de um suposto envolvimento dele no impedimento da militante Rose Rodrigues, nome forte junto ao Movimento Sem Terra, assumir a direção nacional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Márcio negou ter intervido, mas o episódio, nebuloso que só, teve destaque em AnderSonsBlog (leia AQUI).
Em agosto, o Estadão, conforme detalha reportagem de O Tempo (leia AQUI), lançou luz sobre uma escala não programada de um avião da FAB em Santarém, no Pará. A questão é que o voo tinha 21 passageiros indo de Belém à Brasília e só Márcio se beneficiou com a escala, pra acompanhar a esposa, aniversariante, que já se encontrava em Santarém. Como não houve muita repercussão, embora quem entenda de aviação saiba o quanto custa uma escala desse tipo, nenhuma reprimenda oficial ao ministro e tudo caladinho ‘pra ganhar chiclete’.
Mas eis que chega a primeira semana do ano da graça de 24 e o jornalista Lauro Jardim, de O Globo, a partir da exoneração, a pedido, da ex-número 2 da Secretaria Geral, Maria Fernanda Coelho, denuncia que Márcio Macedo autorizou o pagamento de passagens e diárias para que três servidores de seu gabinete fossem de Brasília à Aracaju durante o Pré-Caju do ano passado. Isso vem rendendo desde lá e parece não ter data pra parar.
Só que AnderSonsBlog não se manifestou até agora por entender que é preciso muita hora nessa calma, até pra se ser mais objetivo. E também porque a imensa maioria dos coleguinhas da imprensa e/ou das redes sociais já vinha fazendo uma cobertura que, a bem da verdade, transitou entre a comédia e a tragédia, sempre com cores bem mais fortes do que as reais.
Vamos pra uns recortes mais hilários observados pela casa aqui: primeiro, teve gente até dizendo que houve vazamento da informação da autorização de Márcio e que a Polícia Federal iria entrar no caso! Mas, pera lá: o site da Transparência é que publicou a autorização!
Teve ainda quem ‘acusasse’ o jornalista Lauro Jardim, como se esse tipo de denúncia fosse infundada. E ainda teve quem atribuísse todo o episódio a um tal de fogo amigo, providencialmente ‘esquecendo’ que foi Márcio quem autorizou e pronto!
Desses episódios quixotescos, a impressão que fica é que a culpa sempre é dos outros. E, mal comparando, seria como se alguém, por fome ou por safadeza mesmo, fosse flagrado roubando algo de um supermercado e, em sua defesa, acusasse as câmeras de segurança. Ou seja: o mal feito, em si, não estaria errado e quem erra é quem denuncia? Uma absurda inversão de valores, ora pois!
Mas AnderSonsBlog até demoraria mais a escrever sobre esse episódio se não fosse uma fala do próprio Márcio Macedo no último sábado, 13, em Neópolis, durante a assinatura da ordem de serviço da ponte que ligará o município sergipano à cidade alagoana de Penedo.
No seu discurso, Márcio falou em “invejosos”, mas sem se referir diretamente ao caso que ferve o óleo de sua fritura. Ora, claro que pessoas invejosas são um saco! Mas elas não têm o poder de influenciar nas decisões de quem seria, supostamente, a razão da sua inveja.
Por isso, torcendo que Márcio consiga se livrar desse imbróglio todo, a casa aqui traz uma avaliação bem direta: tanto o ministro como os seus asseclas precisam parar de mimimi, de tentar transferir responsabilidades, assumindo que a liberação das passagens e das diárias foi um tremendo vacilo e, com isso tudo, aprenderem que a função de ocupar um alto cargo na República exige uma concentração e um foco diferenciados, voltados pra coisas realmente grandes e relevantes.
E, por fim, um alerta: não cabe a Márcio Macedo o papel de dificultador em relação ao governo Lula. Convenhamos que, em um ano de mandato, zero indícios de corrupção aparente. Aí vem esse episódio de Márcio!
Bem, mas aí AnderSonsBlog insiste na torcida de que tudo se resolva. Mas, se não se resolver, que Márcio peça o boné! Seguramente será uma atitude digna e que preservará Lula, cuja amizade devotada ao ministro tem sido inconteste, embora não seja garantia de salvo conduto, né isso?
Além disso, ter um ministro que seja oriundo da política sergipana é muito bom! João Alves foi prova disso! Mas não se pode considerar isso melhor do que ter gente da política sergipana se destacando de maneira positiva, independente de ministério e coisa e tal, e sem ter o nome envolvido em situações que precisem, no mínimo, de uma sindicância pros necessários e urgentes esclarecimentos. Fora disso, tudo o mais se trata de uma terrível inversão de valores! Sem mais!