Está cada vez mais complicada a situação do pré ao governo mais que governista, Fábio Mitidieri (PSD), na tentativa de explicar o que seria o tal do “milagre” de gestão que teria operado o “milagreiro”, ao menos pra ele, governador Belivaldo Chagas, também do PSD.
É que quanto mais fala pra agradar a claque governista, mais Mitidieri deixa a entender que os governadores anteriores a Belivaldo, Jackson Barreto (MDB) e o saudoso Marcelo Déda, é que são os culpados pela crise que assola Sergipe ao longo das duas últimas décadas!
Vamos ao que disse Fábio à ITTV na segunda, 6, em entrevista brilhantemente conduzida pelo jornalista Luiz Carlos Focca. “Há quatro anos atrás nós tínhamos um cenário assim: as rodovias todas esburacadas, salário do servidor atrasado, 13º parcelado, fornecedor… quatro, cinco, seis meses atrasado”.
E aqui é que começa a se destacar a condução de Focca na entrevista esclarecedora, pois ele instigou o entrevistado a ser assertivo. Primeiro perguntando quem era o governador à época e, depois de Fábio confirmar que era Jackson, fulminando: “o culpado era Jackson?”.
E aí veio o primeiro “chega pra lá” em JB: “não sei se é culpado. Cada um enfrenta suas crises, cada um lida com suas crises da maneira que entende”, disse, textualmente, Fábio sobre o governo de Jackson. Mas, pera lá: com esse “suas crises” quereria Mitidieri dizer que as dificuldades eram de Jackson e tão somente dele?
Seriam, as tais “crises”, responsabilidade exclusiva de Jackson ou, por se tratar de um agrupamento no poder desde 07, inclusive com o apoio do próprio Fábio, deveriam ser responsabilidades assumidas conjuntamente por todos os que compuseram aquele governo, inclusive o mesmo Fábio, que foi secretário do Trabalho (leia aqui) no governo do mesmo Jackson, lá pelos idos de 13?
Como que sentindo o cheiro de “queimado” nessa sua declarada responsabilização personalíssima de Jackson pelos problemas que Sergipe enfrentou – e ainda enfrenta, pra dizer a verdade –, Fábio, após louvar as ações “salvadoras” de Belivaldo, o “milagreiro”, como parece ele acreditar, tentou dar explicações mais detalhadas. Mas aí é que o caldo engrossou de vez!
Novamente muito bem questionado por Focca, desta vez sobre qual seria a avaliação dos “quatro, cinco anos de Jackson como governador”, Fábio começou com mais um “chega pra lá” em JB: “se eu disser a você que foi um bom governo, está errado!”, simples e direto assim!
E, por fim, na tentativa de jogar uns panos quentes e tal, Mitidieri piora ainda mais a análise, na opinião de AndersonsBlog, absolutamente enviesada de um momento muito complexo e, por que não dizer, doloroso não apenas para a administração pública estadual, mas para toda a população.
Senão, vejamos o que ele disse: “o governo Jackson foi um governo que encontrou dificuldades e que, infelizmente, não conseguiu superá-las da forma como a gente esperava”.
Calma aí: o governo Jackson, efetivado com a triste passagem de Déda em dezembro de 13, na verdade se iniciou já durante os duros, longos e sofridos períodos de tratamento de saúde do então governador acometido de grave doença.
E, a bem da verdade, nem seria possível julgar esse período pelo viés da qualidade administrativa ou não da parte de Déda, afinal, eleito em 06, ele se reelegeu em 10. Portanto, até aquele momento, a população aprovava, sim, a forma como o Estado vinha sendo conduzido justamente por Déda, ora pois!
O que Jackson administrou, naquele exato momento histórico, inclusive nomeando o próprio Fábio em 13, ainda enquanto governador em exercício, foi algo que não se deseja a ninguém: JB administrou a dor da perda, em plena convalescença, de um governador legitimamente eleito e reeleito.
Por isso que mesmo as mais questionáveis decisões tomadas por Déda à época, como, por exemplo, o caso do Proinvest, que marcou o início de uma escalada de empréstimos tomados pelo governo que persiste até os dias atuais, não podem ser utilizadas como parâmetro para dizer que Jackson “encontrou dificuldades”.
Simplesmente essa análise inexiste, do ponto de vista humano mesmo, pelo fato de Déda não ter tido a chance de concluir o que começou – e novamente o Proinvest vem à tona, pois há sérias dúvidas sobre a efetividade da execução do que Déda planejou, mas não executou, por óbvio, sendo que a responsabilidade sobre o Proinvest ter sido positivo ou não para Sergipe está, sim, na conta de Jackson e do próprio Belivaldo.
Assim, ao tentar mostrar que defende um governo que “resolveu”, Mitidieri dá de ombros ao agrupamento que o trouxe – a ele e a Belivaldo, reforce-se – até este momento.
Portanto, além das injustiças analíticas cometidas durante a entrevista dada, na verdade Fábio Mitidieri demonstrou ingratidão seja a Jackson, que pelo menos está aí, vivo e são, pronto para se defender, seja a Marcelo Déda que, infelizmente, nem se defender desse tipo de acusação pode mais! Triste demais isso tudo, viu?