Sobre a Páscoa, sobre uma condenação por transfobia e sobre as perseguições que todos nós sofremos: será que o mundo quer nos unir ou nos despedaçar?

Em algum ponto de sua trajetória profissional, este AnderSonsBlog deixou de acreditar em feriados – ao menos pra si. E dada a natureza da ação da casa, a produção textual, ser antes de tudo uma paixão, não tem essa coisa de dia pra escrever e dia pra não escrever.

Porém, tem dias que a vontade de escrever ganha uma inspiração natural, como é o caso desse Domingo de Páscoa. E nada a ver com a lado mercadológico – que é, inclusive, necessário por gerar renda pra tanta gente através dos mimos “chocolatáveis” -, mas tudo a ver com essa ideia incrível de esperança que se renova com a celebração da ressurreição de Jesus Cristo.

E olha, leitor e leitora, esse lado se dá menos pela religiosidade – uma vez que mesmo aquelas religiões que professam crenças diferentes do cristianismo merecem e precisam ser respeitadas – e mais pela história incrível da passagem de Jesus Cristo pela história da humanidade, fazendo história e deixando lições definitivamente impactantes e transformadoras por essas bandas.

Por isso que, independente dos dogmas religiosos ou da fé que cada um professe – ou mesmo que qualquer um deixe de professar -, a Páscoa tem uma simbologia muito forte: a fé, antes de tudo, é uma fortaleza de bases gigantescamente fortes capaz de operar mesmo o mais improvável dos milagres. Disso ninguém duvida ou, ao menos, ninguém deveria duvidar.

Por isso mesmo que AnderSonsBlog segue acreditando que, apesar de tantos pesares, a humanidade ainda tem jeito – ainda que isso possa parecer uma decisão por exclusão, pois se o cabra não acreditar na humanidade, haverá de acreditar em quem?

Mas, em alguns momentos, é normal que a gente se pegue com sinceras dúvidas sobre se estamos caminhando em direção a um ecumênico respeito a toda e qualquer diferença ou se estamos, na verdade, é esgarçando nossas diferentes posições e visões de mundo de forma a aumentar cada vez mais o fosso que separa cada um de nós de nossos semelhantes.

E um assunto delicado vindo a público na semana passada, o da condenação da primeira dama de Simão Dias, Claudia Cristiane, por ter supostamente – já que foi condenação em 1ª instância, podendo ser reformada – utilizado uma expressão de intolerância contra uma ex-servidora pública municipal, a trans Francielle Oliveira, motivou a análise a seguir.

Antes de prosseguir, AndersonsBlog faz uma ressalva: não ataca a fala de Cláudia, ocorrida em março de 21, e nem a denúncia de Francielle, essa feita em novembro de 21. Até porque este site nem falaria o que Cláudia falou e nem buscaria a Justiça, como Francielle fez, a partir do que ouviu. Trocando em moedas miúdas: apesar de não concordar nem com uma e nem com a outra, AnderSonsBlog respeita as duas e considera que elas estão nos seus direitos, tranquilamente.

Comecemos por Francielle: a sua condição é dela e tão somente dela. Assim, se ofender por uma frase está dentro do contexto de vida que só ela pode entender, pois só ela vive o que ela vive e viveu, entende, leitor e leitora?

E assim cheguemos a Cláudia: falar, textualmente, “tome aqui. Você não diz que é mulher?” seria uma agressão, um tapa na cara ou um murro nas fuças? Aí é preciso também ver o lado de Cláudia, né mesmo? Até pra entender o contexto educacional e mesmo religioso dela, né verdade, leitor e leitora?

E ainda que não falasse isso pra ninguém – e não por ser politicamente correto, não! Mas por simplesmente não se meter na condição da vida de seu ninguém mesmo! -, AnderSonsBlog não vê indício algum de distrato, embora respeite o direito de quem se sinta distratado por uma frase tão pueril.

Até porque Cláudia e sua frase dão a Francielle a capacidade e o direito de definir sua própria condição de gênero. E o que possa parecer “sarcasmo” para Francielle, pode significar um “gracejo” – reforce-se: na opinião da casa aqui até desnecessário – pra Cláudia.

Percebe, leitor e leitora, como essa situação é delicada e complexa? Agora, preconceito mesmo seria se Cláudia, ao distribuir os mimos pelo Dia da Mulher lá em março de 21, virasse pra Francielle e dissesse: “você diz que é mulher, mas eu não concordo! Então, pra mim, você não merece receber esse presente!”.

Não seria essa sim uma forma de se referir preconceituosamente a alguém, negando veementemente a sua condição? Não seria essa uma razão pra Francielle não esperar 8 meses pra fazer a denúncia e partir imediatamente pra Delegacia pra fazer o B.O.?

Lógico que a análise deste AnderSonsBlog se dá no campo de um mero observador, até mesmo porque esse caso ainda renderá, visto que a defesa de Cláudia já garantiu que está recorrendo da decisão em 1ª instância.

Mas ao analisar o histórico simãodiense em relação a esse tipo denúncia, uma pulga imensa começa a morder e a fazer coçar a orelha velha e calejada de tanto que já ouviu de histórias nesse mundo véi!

Afinal, na mesma Simão Dias, recentemente o prefeito Cristiano Viana (PSB), esposo de Cláudia, foi acusado de importunação sexual num caso que foi sumariamente descartado pela investigação policial, que não encontrou minimamente nenhuma prova que levasse Cristiano à Justiça e muito menos a uma condenação.

E aí é que vem a pergunta mais delicada desse imbróglio todo: 8 meses entre o fato e a denúncia de transfobia não seria tempo mais do que suficiente pra que uma questão de ordem pessoal se transmutasse em uma perseguição de cunho político?

E quando se leva em consideração que a denúncia se deu somente após da demissão da servidora e que as duas testemunhas dela também foram testemunhar apenas após suas demissões da gestão, não reforçaria a lógica de que, para além da questão da transfobia, estaria ocorrendo um movimento vingança, pura e simplesmente?

A sensação, ao final e ao cabo, é que Simão Dias deve ser uma das mais bem administradas cidades da história de Sergipe, uma vez que os ataques à gestão têm sido de ordem estritamente pessoal, por condutas que o leitor e a leitora podem até discordar, mas que não dizem respeito diretamente a administração pública, ainda que tenham um impacto inegável na figura pública do prefeito e de sua esposa.

E é justamente em situações desse tipo que se sustenta uma afirmação de AnderSonsBlog lá em cima desse texto reflexivo: “se estamos caminhando em direção a um ecumênico respeito a toda e qualquer diferença ou se estamos, na verdade, é esgarçando nossas diferentes posições e visões de mundo de forma a aumentar cada vez mais o fosso que separa cada um de nós de nossos semelhantes”. É ou não é pra se pensar profundamente sobre isso, ainda mais num dia como o de hoje?

Boa Páscoa pra todos nós!

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