GRANDES ENTREVISTAS – “A gente vê 2.000 erros da incorporação para cada 1 único erro do associativo” – David Sampaio Barreto, da Essenza, desfaz minuciosamente os ataques da Aseopp às Associações Pró-Construção

Anderson Christian –AnderSonsBlog

Tem muita gente dando pitaco sobre a perseguição que a Aseopp tem empreendido contra as Associações Pró-Construção. Inclusive este AnderSonsBlog se insere nessas gentes. Mas, como aqui vale sempre a máxima que todos têm plenos direitos a darem suas opiniões, já ouvimos e publicamos a opinião do presidente da Aseopp, Luciano Barreto – ou da Celi, como queira, leitor e leitora – e decidimos ouvir gente com propriedade e conhecimento de causa. O primeiro escolhido, nesse sentido, foi David Sampaio Barreto, 38 anos, Advogado, vindo da família que construiu o sucesso da Construtora Santa Maria ao longo de quase 40 anos e, hoje, o responsável pela Essenza, empresa que presta assessoria técnica a duas Associações Pró-Construção. “Eu sou um outsider. Sou um cara que não sou do ramo, mas como a família está nesse ramo já bem consolidada, eu morava em São Paulo e resolvi voltar para ajudar a turma a tocar. Tem 7, 8 anos que voltei a ter moradia fixa em Aracaju”, explica David, dando início a uma entrevista realmente esclarecedora e que serve de sustentação para um argumento bancado aqui por AnderSonsBlog, de que a Aseopp, ao atacar as associações, nada mais faz do que tentar fazer uma reserva de mercado impedindo que as pessoas tenha liberdade de escolha, liberdade de marcado, na hora de decidir como prefere adquirir seu imóvel. Mas vamos ao que diz David, pois ele, melhor do que palpiteiros de plantão, deixa tudo as claras na hora de tratar de um tema tão em voga ultimamente.

 

Mais do que simplesmente decidir entrar para o segmento de assessoria técnica em termos de construção, David Barreto explica que foi o mercado que se mostrou receptivo a esse tipo de assessoria. “Tudo caminhou naturalmente. Na verdade, quando eu entrei oficialmente na Construtora Santa Maria, para o ramo de incorporação tradicional, foi uma demanda que surgiu, apareceu no nosso colo e hoje a gente administra duas obras associativas, que são o Mandarim Residence e o The Palm Residence”. Ou seja: David, ao contrário do presidente da Aseopp, Luciano Barreto, não entende como antagônicas as atividades das incorporações e das associações.

“Não se trata de algo criado pela gente. Já existia o terreno, já existia um grupo prévio, já existia a planta. E a gente foi chamado para assumir. Mas não era Santa Maria. Aí, nessa hora, a gente entendeu que seria interessante, pois era uma demanda, inclusive, de clientes nossos. E aí a gente abriu uma outra empresa, que se chama Essenza, e resolvemos tocar essas duas associações”.

“Mas não é uma coisa que choque, não! Isso vem para prestigiar o cliente. Quem pode e entende esse sistema, escolhe o associativo. E a grande maioria da população, por questões financeiras, fica com o modelo tradicional de incorporação, que é financiado pelo sistema bancário”.

Mas se o argumento da Aseopp é de que as associações seriam ilegais, como é que alguém diretamente ligado a uma construtora passa a atuar na assessoria dessas associações? “Tocar uma obra nessa dimensão, e vale esse exemplo: fazer uma reforma em casa já é uma coisa que dá dor de cabeça pra caramba! Agora, você imagine você construir um condomínio? Seja de moradia, seja comercial? São obras robustas, sofisticadas, todas com muitos colaboradores, terceirizados e por aí vai”. Portanto, na avaliação de David, o que ocorre aí é uma simbiose de interesses legítimos, pois quem quer construir, mas tem condições de não depender do financiamento e, consequentemente, da incorporação, precisa de assessoria técnica qualificada. E de uma empresa, no caso da Essenza, que tenha todas as qualificações necessárias.

E David segue detalhando esse modelo de negócio. “Então é assim: existem associações, no caso de Sergipe, como Banco do Brasil, Petrobrás e outras, em que os grupos se formaram e tinha alguém mais disposto e mais entendedor do ramo que tocava a obra. Mas, via de regra, se você pegar um grupo mais heterogêneo, com advogados, empresários, juízes e etc, que exercem suas profissões no dia a dia, eles não têm tempo, não têm a experiência e o know-how de tocar uma obra que exija saber que uma viga tenha que ter tantos centímetros, uma inclinação tal, o ferro tenha que ter tal gramatura. Esse pessoal não tem tempo e nem a obrigação de entender nada disso”.

E é justamente nesse momento em que uma assessoria se faz necessária e, porque não dizer, se faz até essencial para que a obra seja tocada e a satisfação dos associados seja garantida. “A gente tem um corpo técnico de engenharia já muito tarimbado e testado no mercado. Por exemplo, a Santa Maria tem 37 anos de mercado, mas os sócios dela já exerciam isso anteriormente. Por isso que a gente tem o know-how de fazer. E nós entendemos que atuar nessa assessoria técnica traz mais valor ao nosso grupo, pois se trata de quem entende, que sabe fazer, que vai ter uma remuneração “x” e que vai tocar a obra da associação. Pronto!”.

Mas se tudo é tão claro, quais seriam as razões do presidente da Aseopp viver às turras com as Associações Pró-Construção? “Quem vem batendo nas obras associativas tem um viés beligerante por vida. Sempre tem alguns temas que ele brigou, alguns com razão, outros sem tanta razão. Eu, particularmente, não sei se ajo certo ou errado, mas nunca assisti, nunca ouvi e nunca li esses ataques. Tirando uma única, a primeira entrevista, que foi do advogado da Aseopp, Pedro Celestino, que na oportunidade eu li e me causou uma certa impressão”.

“Tanto que eu respondi, num texto que eu considero um desabafo explicativo porque o tema é complexo e estava mal posto, enviesado, tratando as associações meio que como mazelas. E esse texto acabou servindo para tirar de mim e colocar no papel uma explicação clara de como funcionam as associações”.

Mas mesmo esse, digamos, distanciamento, não impede de sentir na pele os ataques, né verdade? “Mas é óbvio que impacta, pois fomos interpelados administrativamente 18 vezes, temos que lidar com isso, com advogados, com assessoria de imprensa e a gente gasta energia, tempo e dinheiro para lidar com isso. Mas eu tenho um dia a dia muito ocupado, uma vida dinâmica e tento não me chocar com isso, pois sei que faço uma coisa séria, legal, hígida e que traz valor para o associado. Tanto traz que tem essa demanda aqui em Sergipe e em todos os estados e isso traz valor para o cliente”.

Mas, para David, haveria alguma incongruência, ou algum tipo de conflito, entre o modelo de incorporação e o de associação? “Você veja: eu tenho clientes que têm o associativo e a incorporação. Esse mês mesmo um cliente se afiliou a um grupo e comprou não apenas um, mas alguns apartamentos no modelo da incorporação tradicional. Não há choque. Óbvio que causa incômodo em alguns. Mas a Andrade Mendonça já fazia esse modelo há 50 anos. A Moura Dubeux, que está entrando em nosso mercado, faz esse modelo em todos os estados. As vezes num mesmo empreendimento faz incorporação e associativo. Eu fiquei até curioso, ‘como é que vocês fazem isso?’, fui analisar, estive em Fortaleza recentemente e vários empreendimentos deles de alto padrão são feitos nesse modelo associativo”.

“Eu toco minha vida e tenho certeza de que estou fazendo algo legal e que é bacana para o cliente”.

Bem, mas aí também vale destacar quais seriam os diferenciais ofertados pelo modelo associativo, no sentido do quanto ele pode atender as expectativas de quem vai possuir aquele determinado imóvel, não? “Eu, quando entro em um negócio, vou entender os porquês, gosto de estudar e entender as características, etc. O modelo associativo, pelo menos o nosso, tem duas características básicas: o autofinanciamento, que são parcelas mais altas do que o normal, pois não vem o banco financiar. O cara tem que bancar, quitar o apartamento dele, a unidade dele, até a entrega do prédio. E tem também a customização”.

Esse ponto, o da customização, muito interessa aqui ao AnderSonsBlog por se tratar de um diferencial que, por si só, já é impactante o suficiente para mais até do que legitimar, mas tornar as Associações Pró-Construção um imenso avanço no mercado e no modelo de consumo. Como isso funciona na prática? “Como o grupo é muito mais próximo, tem várias assembleias, a gente decide como vai ser o empreendimento em conjunto. No meu caso, numa das associações que prestamos assessoria, o playground foi totalmente reconfigurado, numa decisão conjunta dos associados juntamente com a gente. São associações tão específicas, com tantos amigos e familiares presentes, que a gente fez aquele primeiro estudo, imaginando quer isso estava legal, sentamos com calma e as sugestões são do tipo ‘olha, seria tão bom que a academia saísse aqui da lateral leste e fosse pra oeste’. Aí a gente vai pensar, vai rever e depois faz um somatório das opiniões, sendo que existem aquelas inválidas, do ponto de vista técnico, e outras trazem benefícios”.

“Nessa associação, especificamente, o playground foi completamente reconfigurado e ficou uma coisa maravilhosa. E se tratou de uma sugestão de associados não ligados a área técnica”.

“Ainda nesse empreendimento, especificamente, com apartamentos muito grandes, mais de 300m², a gente imaginava, originalmente, quatro suítes. Não existia a opção de três suítes. E foi pedido pelos associados, e hoje a gente tem uma parcela gigantesca de três suítes, numa reconfiguração exigida pelos associados e que, de novo, agrega valor, pois a pessoa está fazendo do jeito dela, desde decisões desse porte até a escolha do material de acabamento”.

“O nível de satisfação é imenso, pois é tudo customizado para aquelas pessoas especificamente. Acabamento, coloração, etc”

Diante de tantos benefícios para o consumidor final, seria a Aseopp o único espaço legítimo para que esse debate seja feito. Vocês, enquanto Construtora Santa Maria, são ou já foram associados da Aseopp? “Nunca fomos associados da Aseopp. Somos associados à Ademi, que é um órgão que existe em todos os estados. E a presidência da Aseopp se revinculou a Ademi depois de ter ficado fora dela. E enquanto novamente associada da Ademi pediu, numa das reuniões, para que a Ademi entrasse nessa querela. A Ademi ainda não se manifestou, mas a Aseopp foi, fez a apresentação dela, depois, eu como sou associado da Ademi, enquanto Essenza, fiz a minha exposição em outra reunião e vamos construir uma solução a quatro mãos, a Ademi com a Aseopp, vendo o que dá para ser regulado, ver o que não está sendo regulado, vendo o que está sendo bacana, pra gente até melhorar e cada vez mais profissionalizar a gestão de obras associativas. Vamos criar um modelo, através de muita explicação, com uma cartilha, para os próximos empreendimentos já seguirem essa regra”

Mas para além das obras, dos seus futuros moradores e proprietários, existem milhares de pais e mães de família que se beneficiam das obras das Associações Pró-Construção com um benefício direto: emprego! “É uma indústria importante, principalmente para gerar emprego, pois tem um uso de mão de obra muito intensivo. E o pedido de liminar para paralisar todas as obras associativas é um pedido infeliz, porque esse pedido liminar (da Aseopp) era para que se parassem as obras que estivessem em construção e se proibisse qualquer lançamento daqui pra frente”.

“Só que só parar as obras em andamento iria pegar o pessoal dos canteiros e botar na rua. E isso é um volume de gente bem razoável”.

Por outro lado, também é preciso destacar que, em situações como essa, desses ataque a um modelo de negócio, não se trata de impor nada, se trata de uma necessidade legítima do mercado, né isso? “O mercado é dinâmico, as necessidades sempre vão ter. E se não tem alguém oferecendo, alguém vai suprir essa necessidade, naturalmente. E isso vale seja para o modelo de incorporação, seja no modelo associativo. Essa característica tirânica, de dizer ‘eu não concordo com o seu modelo e, então, eu quero ela a zero’, é um viés péssimo. É muito infeliz essa posição”.

“A sociedade é dinâmica, a vida é dinâmica e as coisas andam no tempo. Para dar um exemplo direto, como muitas pessoas fala, taxis X Uber, em que se criou um modelo novo de transporte de passageiro”.

“Mas é preciso lembrar que esse modelo associativo não é novo. Talvez esteja mais forte agora em Sergipe, pegando esse nicho, que talvez seja o que incomode a diretoria da Aseopp, que era o nicho dele. Mas essa vertente de que só vai ter ‘a minha opção’ é terrível. É, como já disse, tirânico”

E o que fazer para impedir que um dos lados, apenas, imponha a sua vontade contra as necessidades que o próprio mercado demonstra possuir? “Eu, como um amigo me disse, chuto com os dois pés. Tenho o modelo de incorporação e o modelo de administração de obras associativas. Eu estou valorizando e prestigiando o meu cliente, na medida em que eu falo ‘cara, qual é o modelo que te encaixa, qual é o modelo que te faz bem?’. Aí você vai e escolhe. E isso é o que qualquer um no mercado, especialmente aqueles que sabem fazer boas construções, pode fazer. Tem credibilidade? Vai e faz”.

Mas nem por isso os ataques cessam, apesar de ficar cada vez mais claro que é o cliente, a pessoa física que, desejando, pode e mesmo deve optar pelo que melhor lhe aprouver, pelo que for melhor para si! “Aí fica, me perdoe pela franqueza, com um lenga-lenga de que o modelo é perigoso, que alguém vai pegar o dinheiro e sumir, que não vai entregar as obras. Tudo bem, mas, gente, isso pode até acontecer. Tudo que é humano é passível de erro. Porém, historicamente, como a incorporação é muito maior, a gente vê 2.000 erros da incorporação para cada 1 único erro do associativo. Em Sergipe temos apenas um processo em que fizeram um acordo. Um!.

Enquanto isso, só uma das empresas da diretoria da Aseopp tem 2.000 processos contra ela. Os números falam por si e isso é um dado objetivo, está aí pra quem quiser ver, basta consultar os tribunais”

Mas, na sua opinião, qual então seria a “justificativa”, se é que isso é possível de se justificar, para tantos ataques do presidente da Aseopp, Luciano da Celi? “Se fosse por altruísmo da parte dele, se fosse realmente uma preocupação com aqueles que pudessem estar sofrendo, é preciso ver que os problemas são muito poucos. E se der um problema, não cabe a você simplesmente erradicar um modelo porque existe a chance de, talvez um dia, lá na frente, ter uma possibilidade de haver algum problema. O mecanismo oficial de ajustar um problema é o Judiciário, que vai decidir. Não cabe a você se intitular o ‘salvador da pátria’. Isso não existe”.

E quando o presidente da Aseopp diz que é ele quem está sendo atacado, seria uma forma dele tentar se vitimizar? “Nem acho que ele (Luciano da Celi) esteja tentando se vitimizar, pois ele, historicamente, é uma figura muito poderosa. Mas acho que é muito chato você tentar descredibilizar o argumento descredibilizando o argumentador. Mas, nesse caso específico, acho que está muito entranhada uma coisa com a outra. Eu sofro, há pouco tempo, mas estou sofrendo bastante no último ano, pois o presidente da Aseopp personaliza as coisas e vai até o fim, até as últimas consequências, pois ele não luta contra um modelo, ele luta contra sicrano, beltrano, nomeia quem é o ‘bandido’ do momento, quem é o ‘pirata’, usando termos depreciativos”.

“Particularmente ele nem usa o meu nome, mas eu acho que ele está dando um tiro no pé gigantesco. Os clientes dele estão insatisfeitos com isso, os nossos associados estão insatisfeitos com isso. A sociedade, em geral, está insatisfeita com isso”.

“Até vazou um áudio de um empresário famoso que enviou para ele e que é um resumo disso tudo. Tem muita gente constrangida com essa disputa, que não precisaria ser pública, que poderia ser resolvida dentro de um fórum da Aseopp, da Ademi ou do Sinduscon. Mas ele quis trazer essa briga para o público porque ele tenta constranger os associados e que isso impeça a procura de novos entrantes. Mas eu acho que deu em efeito rebote danado: a pessoa acaba pensando ‘pode ser o p*%4ª, mas eu não compro um Celi de jeito nenhum, pois o cara tá tentando tirar de mim a minha chance de escolher o que é melhor pra mim’. E isso a título de higienizar um modelo de negócio? E ele não tem se movimentado na empresa dele, pois está gastando tanta energia, está tão focado em matar essa discussão que perdeu um pouco o rumo. E Aracaju é pequeno, todos sabemos que ele pega as pessoas na rua, passa horas desabafando. Sendo que os argumentos técnicos dele são muito ruins, muito fracos. E fica só no oba-oba”.

Um outro “argumento” do presidente da Aseopp é que as associações não recolhem impostos. Isso tem alguma procedência? “Eu tenho um tipo de negócio que a minha tributação, enquanto Essenza, é muito maior do que a da Construtora Santa Maria. Eu pago mais impostos. E tem outra questão: ele exige o memorial de incorporação. Mas isso é a antítese do modelo associativo. Por exemplo, na questão do material utilizado, na incorporação não se pode mudar. No modelo associativo, se surgiu um material melhor, mais barato, se algum associado deu a ideia, então vamos mudar”.

“A partir do momento em que ele exige o memorial de incorporação, aí se legaliza a publicidade e a participação de imobiliárias e corretores. Aí é que o associativo explode, vai até a Lua. É um imenso tiro no pé dele próprio!”

Pra fechar: afinal, o que é que tem motivado Luciano da Celi a fazer tantos ataques às Associações Pró-Construção, para além da mera possibilidade do presidente da Aseopp estra tentando fazer algum tipo de reserva de mercado? “Quem estuda esse assunto e conhece esse mercado, sabe que ele é inteligente. Ou ele está mal assessorado, ou está tão apaixonado pelo tema que não quer enxergar a verdade. Exigir o memorial de incorporação é algo que vai contra a natureza jurídica das associações, que nasceram para ser mais dinâmicas. Então, quem ouve ele dizer o que diz, diz logo ‘não é possível que ele esteja falando isso’”.

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