Atitudes ditatoriais do prefeito de Santo Amaro, Paulo César, tiram do ar emissora comunitária e também tiram do armário esqueleto do empastelamento da imprensa. Entenda

Empastelamento. A palavra teria alguma relação com a questão culinária, caso empastelar fosse transformar algo em pastel pra se comer; ou ainda teria um quê de artes plásticas e seus os tons pastéis em relação as cores, se se tratasse de arte e não de artimanha.

Mas, na verdade, o empastelamento aqui tratado é ligado diretamente ao uso da violência pra calar, pra suprimir, pra impedir a livre manifestação da imprensa.

E o termo vem recuperado de momentos muito tristes vividos no Brasil e em outros países quando, usando a força bruta, gente poderosa calou veículos de comunicação, notadamente jornais, literalmente destruindo maquinários e equipamentos para impedir a publicação destes. A esse tipo de ato vil e covarde se dava o nome de EMPASTELAMENTO. Mas isso era uma prática nefasta e odienta lá dos séculos 19 e meados 20, né verdade?

Era verdade! E, infelizmente, no nosso Sergipe, mais de perto na querida e linda Santo Amaro das Brotas, a prática de empastelamento de um veículo de comunicação voltou a cobrir de nuvens pesadas a livre manifestação do pensamento!

A história é triste e, por isso mesmo, precisa ser contada. A Rádio Cidade FM 105,9, emissora comunitária levada ao ar e mantida por uma associação, operando ininterruptamente há 15 anos em Santo Amaro, foi simplesmente tirada do ar esta semana de uma forma claramente ligada ao empastelamento, já que a energia da emissora foi cortada no poste, o que a tirou do ar sem mais delongas.

Além disso, quebraram-se e trocaram-se os cadeados do imóvel em que ela funcionava, impedindo assim o acesso das pessoas da associação aos equipamentos que levavam a rádio efetivamente ao ar. Uma tragédia absurda, um ataque frontal a imprensa livre e, pior ainda, uma violência com um bem comunitário que tanto fez e faz bem ao povo brotense.

E quem estaria por trás dessas atitudes grotescas? Bem, conforme relatos dos funcionários que foram ao local praticar essas ações, protegidos pela Guarda Municipal de Santo Amaro, a ordem partiu do prefeito Paulo Cesar (Avante).

E aqui vamos registrar que o relato de tanto sofrimento e ataques à imprensa livre vem de registros do jornalista e radialista Paulo Souza, ex-presidente do Sindjor e reconhecidamente um amante da radiofonia à ponto de ser diretor da associação que dá sustentação à Rádio Cidade de Santo Amaro das Brotas.

Na verdade, o prédio em que a emissora funciona pertencia ao governo do estado. E em recente evento da gestão de Fábio Mitidieri (PSD) no município, o Sergipe é Aqui – que, irônica e tristemente, a Rádio Cidade transmitiu de forma gratuita como mais uma de suas inúmeras prestações de serviços à comunidade brotense – a direção da associação ficou sabendo da cessão do prédio do estado para a prefeitura literalmente no ar, durante a transmissão, sem nenhum aviso ou conversa anteriores.

Com isso, o mínimo a ser respeitado seria uma comunicação prévia da prefeitura para a associação mantenedora da Rádio Cidade, propondo prazos, compondo ações conjuntas e, em última análise, até sugerindo possíveis locais para a instalação futura dos estúdios da emissora.

Até porque uma rádio não é uma atividade normal, que pode ser transferida de local ao sabor do vento. Por conta da transmissão de suas ondas radiofônicas, é preciso um estudo de local, de área, para a instalação adequada dos equipamentos permita a otimização da transmissão!

Mas a situação consegue ser ainda pior, visto que, sempre segundo os relatos do jornalista Paulo Souza, havia, no âmbito governamental, uma movimentação desde 22, encabeçada pelo então líder do governo e deputado estadual Zezinho Sobral (PDT), para doação do imóvel à associação da Rádio Cidade.

E o processo evoluiu à ponto do ex-secretário de Fazenda do estado, Marco Antônio Queiroz, ter submetido a sua equipe e a sinalização ter sido positiva para a cessão definitiva do local à associação, uma vez que o prédio em questão foi onde funcionou a antiga Exatoria, órgão arrecadador do estado, que, por sua vez, está desativada há décadas!

E conforme essa história avança, mais e mais detalhes cruéis vão surgindo. Por exemplo: um espaço que um dia serviu para arrecadar impostos estava sendo utilizado para levar informação e divertimento para a população! Triste demais!

Mas segue o baile: acontece que o tal processo se perdeu entre o final do governo de Belivaldo Chagas (PSD) e o início do atual governo de Fábio – sim, claro que tem um grau alto de irresponsabilidade aí, mas fim de governo é café frio e a gente até entende, apesar de não aceitar.

Mas como a associação sabiamente cartorializou tudo o que fez em relação a esse processo, a coisa tende a voltar à tona e restar provado que antes da prefeitura de Santo Amaro na gestão de Paulo Cesar ter pedido ao governo estadual a cessão do prédio, a Rádio Cidade já o havia feito, pois sim?

E, de mais a mais, tanto Sobral quanto Queiroz estão no governo de Fábio, o primeiro como vice-governador e secretário de Educação, enquanto o segundo como presidente do Banese.

Assim, basta um telefonema do governador para ambos confirmarem a história e Fábio voltar atrás numa decisão em que ele foi induzido ao erro e que, por fim, acabou por dar vez ao protótipo de ditador que Paulo Cesar demonstrou ser nesse triste episódio.

E qual a razão de tanto ódio de Paulo Cesar direcionado à Rádio Cidade? Simples demais: uma emissora comunitária não teria razões para existir se não fosse para dar vazão aos reclames e cobranças da população!

Só que se nenhum prefeito de Santo Amaro se incomodou com isso ao longo de 15 anos, não fica claro que Paulo Cesar quis calar a emissora ao propor a cessão do espaço para a prefeitura com vistas a instalar no local uma secretaria?

Não fica claro que o empastelamento se deu para calar a voz do povo de Santo Amaro e impedi-la de se manifestar através do único veículo radiofônico de comunicação do município?

Se Fábio Mitidieri mantiver a decisão e não encontrar uma solução para que a emissora seja recolocada no ar, estará o governador compactuando com as ações ditatoriais de Paulo Cesar. E se assim o fizer, estará dando aval para que muitos protótipos de ditadores coloquem suas asinhas pra fora e ataquem sem a menor cerimônia todo e qualquer veículo de comunicação que lhes desagradem por não rezarem nas suas torpes cartilhas de manutenção de poder!

Assim, que Deus proteja a liberdade de imprensa. E que o governo tome a decisão correta nesse caso terrível de Santo Amaro. A democracia, penhoradamente, agradecerá! Sem mais!

 

 

 

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